Por ano, 20 mil animais silvestres são atropelados na rodovia BR-101 Norte no ES
Existe até uma petição online com quase 15 mil assinaturas que pedem medidas como a redução da velocidade da via para 60 km/h em todo o trecho de 25km
Anta, arara, tatu, bugio, gavião-real, onça pintada, macuco, jaguatirica ou mutum, é bem provável que você sequer tenha visto um desses de perto e se o número de atropelamentos de animais silvestres continuar crescendo, provavelmente nem seus filhos verão essas espécies.
De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), conduzida pelo professor Áureo Banhos, só no trecho de 25 quilômetros que compreendem a BR-101, Norte, são 50 animais silvestres mortos por dia. Em um ano são 20 mil bichos que morrem somente naquele perímetro.
“No Norte do Estado a gente monitora os atropelamentos e verificamos que há um indivíduo morto por dia a cada um quilômetro de estrada. No trecho que compreende a Reserva Natural da Vale e a de Sooretama são dois por quilômetro”, afirma o biólogo e professor.
Segundo o professor Áureo, o monitoramento é feito pela manhã e a maior preocupação é com o ecossistema. No local existem espécies em extinção e que são fundamentais para a sobrevida de outros animais. “Isso é uma tragédia, esse ambiente faz a manutenção de uma série de recursos necessários ao seres humanos. A ausência deles pode causar um descontrole imenso”, garantiu.
A concessionária Eco101, que administra a BR 101 Norte, afirma que o local é equipado com dois radares e com tachas no eixo da pista para coibir a aceleração demasiada e ultrapassagens no trecho. A velocidade na região é reduzida para 60 km/h.
Ministério Público intervém na busca de medidas para conter mortes
Já o Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF/ES) diz que mantém diálogo com diversos órgãos que atuam no trecho da BR-101, que corta a Reserva Biológica de Sooretama, a Reserva Natural do Parque da Vale e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural Mutum-Preto e Recanto das Antas. O objetivo é buscar a adoção de medidas para combater o alto índice de atropelamento de animais silvestres que está sendo registrado na rodovia.
Existe até uma petição online com quase 15 mil assinaturas que pedem medidas como a redução da velocidade da via para 60 km/h em todo o trecho de 25km. De acordo com o órgão, no local seria necessária a instalação de radares de trecho inteligentes que registram e monitoram a velocidade dos veículos, desobstrução de túneis de drenagem de água sob a pista que podem servir como passagem de fauna, e o cercamento da via de forma direcional para os túneis. Também há a necessidade de retirada das árvores frutíferas das margens da estrada que atraem os animais, e passagens aéreas para macacos e bichos-preguiça. A fixação de placas temáticas de advertência e educativas também fazem parte das medidas para evitar as mortes, que foram propostas por pesquisadores e protetores como Leonardo Merçon, presidente do Instituto Últimos Refúgios.
Monitoramento na Rodovia do Sol
Já na Rodovia do Sol, que liga o município de Vila Velha a Guarapari, o projeto “É o bicho” que visa à proteção da fauna regional e a redução do número de acidentes ocasionados pela presença de animais na pista, é desenvolvido há 14 anos pela concessionária que administra a via, a Rodosol.
O projeto abrange todo o trecho sob concessão na rodovia ES-060, com aproximadamente 67,5 km, nos municípios de Guarapari, Vila Velha e Vitória. No período de maio de 2001 a dezembro de 2014 foram registrados 3.943 ocorrências de animais vertebrados mortos por atropelamento, sendo 183 diferentes espécies atropeladas (4 de anfíbios, 29 de répteis, 117 de aves e 33 de mamíferos). A maior concentração de registros de coleta está no período entre outubro e janeiro e entre as 8 h e 10 h da manhã.
Até 2014 foram feitas 3.921 travessias no faunodutos, que são túneis e manilhas dos sistemas de travessia de fauna na rodovia, com 24 espécies registradas garantindo a segurança dos animais. Os bichos que são encontrados na rodovia debilitados também são resgatados, recebem os cuidados necessários e são devolvidos ao seu habitat natural ou encaminhados após o tratamento à Companhia da Polícia Ambiental e também ao Centro de Reintrodução de Animais Silvestres (CEREIAS)