Polícia

Acusado de roubar picanha é imobilizado e torturado em supermercado de Cariacica

Segundo um dos funcionários, Claudionor Barbosa colocou oito peças da carne dentro de uma mochila. Ele foi levado para uma sala e brutalmente agredido

Homem foi amarrado e torturado dentro do supermercado Foto: Reprodução

Um homem suspeito de tentar furtar pedaços de picanha em um supermercado de Cariacica foi amarrado e espancado após o crime ter sido flagrado pelos seguranças do estabelecimento. O caso aconteceu na manhã desta quinta-feira (29).

Segundo um dos funcionários, Claudionor Barbosa de Sá, de 39 anos, entrou no supermercado por volta das 10 horas e colocou oito peças da carne dentro de uma mochila, totalizando aproximadamente R$ 500 em produtos. 

Ao tentar sair do estabelecimento, Claudionor foi abordado por um segurança. Ele ainda tentou fugir, mas foi imobilizado. A partir daí, foi levado para uma sala, onde aconteceu o espancamento. A agressão foi gravada por uma das pessoas que participavam da sessão de tortura.

O vídeo

O vídeo tem dois minutos e meio. Ainda dentro do estabelecimento, com Claudionor dominado e amarrado com as mãos para trás, alguém pergunta: "quer brincar não?". A partir daí, o que se vê são agressões covardes, com uma corrente. 

Em determinado momento, um homem bate forte nas costas do suspeito. Depois, com o bico do calçado, chuta a coluna da vítima. É possível ouvir o agressor falando para ele não olhar para nenhuma das pessoas que estão na local.

Claudionor também teve a cabeça chutada. Um dos agressores, após pisar no suspeito, fica de pé nas costas dele. Enquanto isso, os que assistem à cena começam a rir. Ao ver a vítima aparentemente desacordada, um dos agressores diz: "vou fazer você acordar, peraí". 

Em seguida, a pessoa que grava o video pega o maior de pedaço de carne e arremeça na cabeça de Claudionor. As agressões continuam e os torturadores ameaçam a vítima, prometendo uma nova sessão de tortura caso ela volte ao estabelecimento.

A polícia foi chamada e Claudionor foi conduzido para a delegacia. Ele, que já tinha sido preso por tráfico de drogas, foi autuado por furto. Para a polícia, ele confirmou que apanhou no supermercado.

Com base nas imagens, a polícia instaurou um inquérito para investigar as agressões. O delegado chefe da Delegacia Regional de Cariacica, José Luiz Pazeto, se disse surpreso com as cenas.

"As cenas são fortes. A imagem causa repulsa quando a gente vê. Ali houve descontrole emocional dos seguranças do supermercado e banalização pela integridade do ser humano. As pessoas não estão respeitando o próximo como ser humano. É como se fosse uma coisa qualquer, que pode chutar, agredir, machucar", destacou.

Fora de casa

Ao ser preso, Claudionor deu o endereço de sua casa, localizada em Sotelândia, a apenas três quilômetros do supermercado. Ele não é visto no local desde junho do ano passado, quando, de acordo com vizinhos, foi colocado para fora de casa após agredir a esposa. A partir daí, se envolveu ainda mais com o mundo das drogas.

Na casa em que Claudionor morava, a filha dele, de 12 anos, diz que há um ano não vê o pai. Por telefone, a reportagem da TV Vitória/Record conversou com a ex-esposa dele, que ainda não sabia da prisão de Claudionor.

Direitos humanos

O caso ganhou repercussão nacional. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, Martim de Almeida Sampaio, também assistiu ao vídeo. Para ele, a algema somente pode ser usada por policiais. 

Além dos seguranças, os responsáveis pelo supermercado também podem ser responsabilizados pelas agressões.

"Essa pessoa deve ingressar no Poder Judiciário e pedir uma indenização por danos morais. Fora outras providências contra o supermercado, que mantém uma milícia que pratica esses atos. A diretoria e os responsáveis diretos devem comparecer no Poder Judiciário para que sejam devidamente responsabilizados pelo crime de tortura, que é inadmissível nos tempos de hoje", ressaltou.

 O outro lado

Por nota, o supermercado informou que repudia todo e qualquer tipo de agressão. Segundo o estabelecimento, todas as orientações e treinamentos são no sentido de respeito em todas as relações. 

O supermercado informou ainda que já iniciou a apuração dos fatos e que trabalha na identificação dos agressores, para que eles sejam punidos imediatamente e respondam pelos seus atos perante a lei.

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