Polícia

Jovens relatam suposto abuso da PM durante abordagem em Vitória

Os rapazes estavam dentro do coletivo quando os militares pediram que eles descessem do ônibus. O coletivo foi parado pela Polícia Militar enquanto passava pela avenida Elias Miguel

A abordagem aconteceu no Centro de Vitoria Foto: TV Vitória

Dois jovens remadores e um passista de uma escola de samba de Vitória foram abordados por policiais, na noite da última quarta-feira (16), dentro de um ônibus municipal, no Centro de Vitória

Os rapazes estavam dentro do coletivo quando os militares pediram que eles descessem do ônibus. O coletivo foi parado pela Polícia Militar enquanto passava pela avenida Elias Miguel, no centro da capital. Três adolescentes, que estavam nos fundos do ônibus, tiveram de descer e foram revistados na calçada. Dois desses jovens são remadores do Clube Regatas Saldanha da Gama. 

Eles estavam a caminho do clube quando foram abordados pelos policiais. “Eu e meu amigo estávamos indo para o treino como de costume, e as motos da polícia passaram e eles já ficaram olhando para nós, que estávamos sentados atrás. Pediram para o ônibus parar e já chegaram apontando a arma e pedindo para a gente descer, porque iriam revistar. Começaram a perguntar se a gente tinha alvará e se já tínhamos sido presos. Queriam que nós fossemos presos de qualquer jeito, perguntando por alvará e pedindo documentos. Um policial chegou atrás de mim e disse que era pra eu ficar ‘na atividade’, e que ele estava me marcando, e eu só concordei. Eles pegaram nosso nome, idade e perguntaram onde a gente morava. Foi quase abuso de autoridade”, disse um dos rapazes abordados que preferiu não se identificar. 

O outro rapaz afirma que chegou a explicar que era atleta.“Eles falavam bem alto e chegaram querendo nos intimidar. Eles perguntaram onde estava o alvará, e eu disse que nunca tinha sido preso, que era atleta, e não mexia com essas coisas erradas e que minha mãe sempre me ensinou as coisas certas. Eles estavam forçando a gente a falar quase me batendo”. 

Outro adolescente, que é passista da escola de samba Unidos de Jucutuquara, estava a caminho do ensaio também contou como foi a abordagem. “Eu lembro que chegaram duas motos com policiais, pararam o ônibus e, em seguida, veio um carro da polícia na contramão pedindo para que eu e mais dois rapazes descerem do ônibus, e começaram a revistar. Mandaram a gente ficar com a mão na parede. Eu coloquei a bolsa no chão e eles começaram a revistar a gente”, contou. 

Enquanto os jovens eram revistados, policiais faziam buscas dentro do ônibus. A abordagem durou alguns minutos e nada de ilícito foi encontrado com o grupo. Os três foram liberados e seguiram viagem no mesmo coletivo em que estavam. O jovem passista, de 17 anos, contou que nunca passou por uma situação assim. “Quando eles me liberaram entrei no ônibus e chorei de vergonha”. 

O atleta de 16 anos disse que está abalado com o que aconteceu. “A gente fica abalado e triste com essa situação. Eles têm que nos proteger, é o papel deles, mas não nessa situação. Só porque sou morador da favela o cara vai chegar do jeito que chegou? Não é todo morador de favela que é bandido”. 

Já o outro remador contou que já passou por situações onde a roupa que vestia foi motivo de desconfiança. “Já fui parado por policial só porque tenho tatuagem, deles olharem e achar que eu sou bandido. Por causa de boné, eles já têm preconceito e acham que eu uso droga. Eles acham que só pela aparência dá para julgar as pessoas”. 

Os policiais militares que participaram da abordagem não quiseram falar com a equipe da TV Vitória e também não explicaram o motivo que os fizeram parar o ônibus. Os três jovens também não ouviram explicações. “Eu não entendi direito, porque tinham outras pessoas. Não vou dizer discriminação, mas tinha um menino que também desceu e era branco. Eu e o outro éramos mais escuros, e tinha um branco na minha frente. Eles não pediram para que ele descesse do ônibus”, disse o passista.   

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que iniciou nesta quinta-feira (17) a Operação Ônibus Seguro atendendo a uma demanda da população que pedia mais abordagens aos coletivos, e que o objetivo é reduzir as ocorrências de assaltos a ônibus. São pelo menos duas operações por noite em cada município da Grande Vitória. A PM reforçou que não há preconceito e que todos os passageiros são abordados, embora nem todos sejam revistados e que quem se sentir prejudicado, pode procurar a corregedoria da PM.