Vida, arte e psicanálise: uma análise sobre Ferreira Gullar
“A arte existe porque a vida não basta”, disse Ferreira Gullar, poeta, escritor, crítico de arte, que muito me ensinou e ensina, graças aos escritos e registros deixados. Me lembro com muito carinho do dia que tive a oportunidade de vê-lo falar pessoalmente.
Eu, recém tinha finalizado a graduação em psicologia na Ufes, com poucos anos de divã, participava de um evento que a Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória – a escolhida para minha formação – estava realizando, chamado “A Dor de Existir”. Ele, um senhor grisalho, poeta, pensador contemporâneo explanava no Pôr do Sol, hotel antigo de Vitória. E lança a pergunta – quem se lembra dos bons tempos deste hotel? – para um auditório lotado e animado sobre a sua experiência de existir.
Foi ali, que o poeta me ganhou e fez sua marca. Senti que precisaria da arte e de sua potência criativa para compor com a psicanálise na caminhada da vida. Diz o poeta que a vida é uma grande invenção e o mundo inexplicável. A religião, a ciência, a filosofia e a arte são coisas que o homem inventou. O homem é uma invenção de si mesmo e por mais perguntas que façamos, não conseguiremos reduzir a existência do mundo às explicações objetivas e compreensíveis. O real, é que o Universo por suas incomensuráveis dimensões, está para além da compreensão humana, não dá para entender existência.
Viver não tem explicação. E não saber dói. É neste o ponto, segundo Lacan, que desejo de saber se torna o horror de saber, ao se deparar com a falta de sentido para a vida. Mas é também aí, o ponto de possibilidade de virada, onde a vida em repetição pode ganhar margem para invenção. Margem de liberdade que vem com a grande responsabilidade de compor sua própria vida, escrever em tempo real a sua história.
Vida dramática? Ou vida poÉtica? Tarefa interessante e rica, mas trabalhosa. Estar próximo à arte me encoraja neste exercício diário de compor e avançar mesmo sem saber. “Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba … porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei”.
Obrigada por me (des)construir Gullar. Vamos com arte vida! Até breve!