Estudo sem contemplação: a não pintura de Ivo Alexandre
Na exposição além-mar: Rotas Subversivas em Florianópolis – SC, o artista português Ivo Alexandre apresenta um conjunto primoroso e inquietante de obras. Dentre as instalações pictóricas, há um retrato do artista El Greco (exposto ao lado de um espelho).
El Greco, foi certamente, um dos artistas mais subversivos de todos os tempos. É um artista que tem sido referência na História da Arte para outros artistas (Picasso, Manet, Degas, Gauguin, Kandinsky, Franz Marc, dentre outros, até os nossos dias, como é o caso de Ivo Alexandre).
El Greco impôs sua forma e modo de pintar sobre o conteúdo da pintura, desafiando os roteiros e narrativas formais, criando cenas, onde o ponto de fuga encontrava o espectador. Agregou ao maneirismo a potência da prática, e esteve à frente de suas próprias referências (Tiziano e Tintoretto).
Na exposição sobre o tema da subversão, o retrato de El Greco pintado por Ivo Alexandre está ao lado de um espelho, que propicia um jogo de reflexos (com outras obras) e reflexões com quem situa-se à sua frente. O que vemos nós quando olhamos para um espelho?
Há um entorno entre figura e fundo que geram imagens, que criam situações e vislumbram circunstâncias. Há um modo como o espelho eleva a nossa imaginação para outro patamar: olhar a si próprio é contemplar uma metáfora.
O artista cria metáforas que não podem ser óbvias, e o espelho neste caso, é uma forma de interação ao processo pictórico, que agrega ao gênero do retrato a condição da atualidade na arte contemporânea.
Ivo Alexandre, consolida um esquema instalativo e performativo para a pintura, compreendido pela transformação e melancolia do que, é possível ser evidenciado (ou não), como ação e ato, ao olhar a si próprio ao lado de El Greco.
Enquanto isto, as pinceladas do artista revelam uma pintura fantástica, repleta de modulação e estudos cromáticos, que configuram um instante de um olhar enigmático e assombrado, (poderia ser o “it” de Clarice Lispector).