Análise: colóquio internacional explora a evolução do conceito de paisagem
No campo das artes visuais, a paisagem é considerada um gênero histórico cuja origem remonta ao século XVII, nos países baixos.
Embora possamos encontrar pequenas paisagens ao fundo de pinturas de retratos de figuras religiosas ou legendárias, até este momento a paisagem ainda não tinha adquirido autonomia como assunto principal da pintura.
As representações dos espaços externos do mundo começam a se popularizar principalmente através dos pintores flamengos, que retratam a vida cotidiana em ambientes agrários e urbanos das terras holandesas e belgas.
Posteriormente, o gênero se desenvolve e ganha adeptos em outros países europeus, como as pinturas de Claude Lorrain, na França ou os trabalhos de ingleses como John Constable e Gainsbourough, já nos séculos XVIII e XIX. Na arte moderna, o tema volta a ser abordado de maneira onírica nas pinturas dos surrealistas.
Já na arte contemporânea, a paisagem não só é abordada também através de dispositivos técnicos como a fotografia ou o vídeo, mas serve também como lugar de intervenção direta, como no caso dos artistas ligados ao movimento Land Art dos anos 1970 e depois.
Porém, quando pensamos no conceito de paisagem, não podemos nos ater simplesmente às imagens sobre os espaços do mundo natural produzidas por artistas, mas devemos ampliar a compreensão deste termo a partir dos olhares da geografia, da arquitetura, do paisagismo, da agronomia e das ciências sociais.
A paisagem, portanto, não é apenas imagem, mas espaço vivenciado por seres humanos e não humanos. A paisagem é um espaço de transformação constante, quer seja por ações realizadas pelo homem, alterando o meio-ambiente e as condições climáticas ou geológicas, quer seja pelas próprias alterações temporais dos eventos naturais.
Existem diversos pensadores que já teorizaram sobre estas questões, cujas reflexões não cabem no âmbito deste artigo.
Uma boa parte destas diferentes visões foi discutida recentemente, de 3 a 7 de agosto de 2024, no VI Colóquio Internacional “EL PORVENIR DEL PAISAJE/2024”, organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob coordenação do Prof. Dr. Rubens de Andrade e do Grupo de Pesquisa Paisagens Híbridas.
No evento, pesquisadores de diversos países latino-americanos puderam apresentar seus estudos em um amplo diálogo interdisciplinar, que abordou tanto questões estéticas, como ecológicas, socioeconômicas, educacionais, botânicas e filosóficas ao redor da paisagem.
Tendo como subtítulo “Escutas ancestrais, cidadania ambiental e acordos para o bem viver”, o colóquio firmou-se como um importante fórum de discussão sobre o fazer e o pensar a paisagem, inserindo o Brasil em uma importante rede de colaboração de pesquisadores internacionais a partir de um olhar latinoamericano para seu ambiente paisagístico.