Como é definido o preço de uma obra de arte? Entenda

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Isaac Antônio Camargo

Nos últimos meses, tomou conta da mídia, uma polêmica gerada a partir de uma obra atribuída a Tarsila do Amaral. A pintura “Paisagem 1925”.

O estopim foi a oferta da obra ao mercado por 60 milhões de reais. Embora o valor estimado não estivesse fora de parâmetro deste mercado pois, a obra Abaporu, da mesma autora, hoje no acervo do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires -Malba, na Argentina, já foi avaliada por 45 milhões de reais.

O problema foi gerado pela contestação da autoria por parte dos herdeiros da artista. Em vista disso, outra parte dos herdeiros solicitou a perícia da obra recorrendo a avaliador juramentado e processos tecnocientíficos realizados em laboratórios da Universidade de São Paulo e do Laboratório Móvel de Análise de Obras de Arte do Instituto Federal do Rio de Janeiro da Universidade Federal Fluminense, cujos laudos validaram a autoria.

A polêmica, portanto, se deu a partir do questionamento de sua autenticidade, mas tocou num ponto nevrálgico que, volta e meia, vai parar nos noticiários: o Valor de uma Obra de Arte.

Identificar a autoria de uma Obra de Arte é importante para o contexto histórico e sociocultural, no entanto, pode se tornar um “cavalo de batalha” quando toca na questão do “vil metal”, ou seja, quanto ela “vale” no mercado de Arte.
Embora a ideia de valor esteja, quase que exclusivamente, atrelada ao mercado econômico, é necessário ponderar sobre outras qualidades que sustentam os Valores de uma Obra de Arte.

Pode-se dizer que neste campo há dois tipos de valor: o cultural e o mercantil, ambos apresentam aspectos objetivos e subjetivos, ou seja, alguns elementos claros e inequívocos e outros elementos imponderáveis e obscuros. De um modo ou de outro as questões relativas aos valores nem sempre são fáceis de identificar ou compreender.

Sabe-se que os valores culturais são importantes para o contexto das instituições que promovem mostras e mantém acervos de Obras de Arte como Museus e ambientes institucionais, no entanto, no contexto comercial das galerias e casas leiloeiras, são mais importantes os valores de mercado.

Aspectos objetivos dizem respeito a questões materiais como, por exemplo, os elementos formais, plásticos e estruturais utilizados na elaboração da obra. Neste sentido entram em conta dimensões e suportes sobre ou dos quais são feitas, os materiais e produtos artísticos usados na sua confecção, as ferramentas, aparelhos e meios para sua realização, as condições de apresentação e de preservação que revelam, enfim, aspectos que integram e garantem sua condição física.

Tais questões envolvem, a princípio, a base de precificação das obras. Isto diz respeito ao custo dos materiais utilizados na sua confecção, complexidade técnica, tempo de trabalho dedicado e qual o valor de venda mínimo e necessário para que o artista possa comercializá-la e garantir sua presença no meio artístico.

A posição das obras no mercado também influencia seu valor, se está no mercado Primário ou Secundário. O primário é entendido como a primeira inserção por meio da venda direta ou transferência da obra pelo próprio artista ou representante como marchands e galerias.

O secundário é constituído pelas relações em que a obra não está mais sob a posse ou guarda do produtor ou de herdeiros. Embora o direito autoral permaneça, o direito patrimonial já foi transferido por ocasião do repasse para outrem.

Neste caso, as negociações serão realizadas por marchands em galerias, feiras e casas leiloeiras, desde que as obras preencham os requisitos necessários, os valores serão superlativos.

Aspectos subjetivos dizem respeito a elementos imateriais que participam de sua existência estética e conceitual. Um dos principais é a identidade sociocultural e histórica, ou seja, sua pertinência a segmentos relevantes num dado momento histórico sociopolítico contribuem para sua validação, valoração e valorização.

Fatores relativos à sua origem como lugar, pertinência a uma época, estilo e autoria também são importantes e, sem dúvida, um dos fatores relevantes é o da autoria. A certeza de que uma obra foi realizada por artista identificado, conhecido e reconhecido, além de garantir autenticidade, valida e mantém a credibilidade no Sistema de Arte como um todo.

Obras de artistas conhecidos, reconhecidos, consagrados, respeitados ou já consolidados no Sistema de Arte garantem maior demanda e ampliam o valor em relação às que não possuem tais qualidades. Aspectos como reputação e fama de artistas são diferenciais que importam para sua valoração. A biografia, identidade e, até mesmo, comportamentos e atitudes de artistas podem influenciar no valor de suas obras.

Estilo, proposições, temas, assuntos, interações sociais e, pasmem, o histórico de colecionistas e proprietários também influenciam o mercado, principalmente se tiverem entre eles milionários e celebridades. Por mais estranho que pareça, este é um dos pontos que mais contribui para definir os altos valores de certas obras.

Verbos como validar, valorar e valorizar estão sempre presentes no contexto da Arte Visual. Validar implica em garantir a consistência de algo como verificável, fidedigno e mesmo verdadeiro. Valorar indica que algo possui pertinência, importância, reconhecimento.

Valorizar é aumentar, somar, ampliar a condição de algo conhecido, já validado ou valorado. Condições de validade e valoração estão mais próximas da cultura e valorização mais próxima do mercado.

Pode-se dizer que, no contexto da Arte Visual, tratar de valores implica em realizar abordagens teórico-críticas e mercantis. Quaisquer que sejam elas, é necessário conhecimento, tanto sobre Arte quanto em Arte.

No contexto cultural identificar valores históricos, estéticos e conceituais garante a validação cultural tanto das instituições envolvidas, quanto da preservação do conhecimento humano, por outro lado, no contexto comercial, possibilita que a mercantilização ancorada em valores culturais justifique e garanta tanto os investimentos, quanto a especulação e os ganhos estratosféricos.

Portanto perguntar quanto vale uma obra de arte parece não trazer respostas objetivas, mas saber como tais valores são atribuídos, é possível atenuar a curiosidade.

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Isaac Antônio Camargo

Professor, artista e pesquisador, graduado na Licenciatura em Desenho e Plástica, Mestrado em Educação, Doutorado em Comunicação e Semiótica. Atua no ensino no campo da Arte desde 1973, atualmente como professor associado nos cursos de Artes Visuais da UFMS. Desenvolve várias atividades de produção artística participando de mostras e como curador na produção de eventos. Realiza pesquisas sobre e em Arte Visual. Mantém o site www.artevisualensino.com.br destinado ao apoio de atividades didático/pedagógicas e difusão em Arte Visual.