“Miêdka”: espetáculo da companhia Insaio chega a Vitória

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Flávia Dalla Bernardina

Miêdka significa ‘aquela que vive entre mundos’. Esse é o tema sobre o qual a antropóloga francesa Natassja Martin discorre no livro “Escute as Feras” (Editora 34, 2021). Ali, ela narra de maneira visceral o seu encontro com um urso nas montanhas Kamtchátka, quando esteve estudando os evans, povo do nordeste da Sibéria.

Um encontro que marcou seu rosto definitivamente e quase lhe custou a vida. Miêdka, disse a tribo, é como chamam aquela que sobrevive ao embate com o urso, e por isso, passa a habitar o limiar entre humano e bicho.É interessante pensar nesse lugar de limbo, essa voz que ecoa a partir de um hibridismo e que não dialoga com as fronteiras, mas com o espaço entre elas. Um estado de fluxos e contrafluxos.

Esse também é o tema do mais recente espetáculo da Insaio Cia. de Dança “Miêdka: uma metáfora do encontro”, que traz os intérpretes-criadores Cláudia Palma, diretora artística da companhia desde 2010, Armando Aurich e Ana Mondini.

O trabalho propõe o reencontro entre eles após 25 anos, num resgate de memórias das suas experiências artísticas nas décadas de 80 e 90, memória que está impressa nos corpos dos bailarinos e aparece em sensações, afetos, vozes e cheiros.

O espetáculo ‘Miêdka’ dialoga com o extrato que reverbera dos corpos carregados de experiências de Cláudia, Armando e Ana. Para dialogar com essa memória, o trabalho circula pelas cidades origem dos bailarinos, com apresentações realizadas em São Paulo, origem de Cláudia Palma, Caxias do Sul e Porto Alegre, cidade de Ana Mondini e agora Vitória, de onde Armando Aurich é natural.

Aqui estarão em cartaz dias 3 e 4 de outubro, no Teatro Virigina Tamanini, no Sesc Glória, numa atmosfera intimista que convoca o público a imergir na obra.

Nos (re)encontros que a vida nos convoca, o que imprimimos no outro? O que é depositado em nós? As interações pressupõem uma espécie de abandono de si, precisamos deixar de ser nós mesmos para nos tornarmos uma outra coisa nas relações.

A todo tempo marcamos e somos marcados, vivemos experiências limiares que nos convidam a pequenas e grandes metamorfoses, por vezes indizíveis. Um tempo depois é possível elaborar algo através escrita, da dança, das perspectivas simbólicas que redesenham os contornos.

Essas são as palavras que Natassja Martin consegue escrever após a experiência do duelo com o urso:

“Não pareço mais comigo mesma, minha cabeça é uma bola arranhada por cicatrizes vermelhas e inchadas, por pontos de sutura. Eu não pareço mais comigo mesma e, no entanto, nunca estive tão próxima da minha compleição anímica; ela se imprimiu em meu corpo, sua textura reflete ao mesmo tempo uma passagem e um retorno.” (trecho de ‘Escute as Feras’, Ed.34)

Para os interessados em aprofundar na pesquisa de Cláudia Palma e nos processos para a elaboração do espetáculo, dia 5 de outubro, das 9h às 12h, na Sala da Palavra no Sesc Glória, haverá uma oficina com a Insaio Cia. de Dança. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site do Sesc.

Nos vemos no teatro!

SERVIÇO
Miêdka – uma metáfora do encontro, Insaio Cia. de Dança

Onde: Sesc Glória, no Centro de Vitória
Quando: dias 3 e 4 de Outubro (quinta e sexta-feira), às 19:30
Com: Cláudia Palma, Armando Aurich e Ana Mondini

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Flávia Dalla Bernardina

Advogada em Propriedade Intelectual. Mestre em Artes Visuais pela UFES. Curadora de arte. Diretora Artística na Galeria Matias Brotas. Membro da Comissão Especial de Propriedade Intelectual da OAB/ES e da OAB Federal. Idealizadora do podcast Conversa com Artista. Pesquisadora das relações entre direito e arte, sobretudo no que tange à autoria.