Crítica | Agora ou “a tu teoría le falta calle”*
É difícil ser otimista em tempos de descalabro. Nem pudemos nos recompor de uma pandemia mundial, coisa de ficção científica, e já há guerras em todas as partes.
Para cada momento fugidio de alívio, vem outra coisa, crises financeiras, humanitárias e ecológicas, como uma paródia macabra daquelas propagandas de TV dos anos 1990 (“se ligar agora, você leva não uma, mas cem embalagens de…”).
Parece um desafio enorme trabalhar com arte em tempos de crise. Digo isto na lógica capitalista, produtivista, porque pensar e viver arte é um fazer inerente de seus praticantes.
Qual proposta ou exposição merece ser montada e vista num momento como esse? Precisamos de mais problematizações ou de bálsamos?
Queremos conhecer, atentar para situações trágicas, reviver e ressignificar problemas estruturais, ou de um mergulho estético; um momento de encantamento, um oásis temporário contra todo mal lá fora?
É importante seguir realizando ações online, chegar a pessoas de forma mais abrangente, ou queremos estar juntas de novo, com a proximidade e o calor que o virtual ainda não é capaz de gerar?
Tudo o que nos propomos a criar assume-se como enfrentamento às questões urgentes desse agora, já que a pandemia nos lembrou que não há tempo a perder.
Cada proposição, mais evidente ou abstrata, é uma escolha política. Sinto-me desafiada a pensar nessas questões, como forma também de colaborar na proposição de um outro futuro.
Penso que tomar emprestada a capacidade de imaginar, fabular e especular da prática artística são uma outra forma de pensar fazendo, uma alternativa ao que já está posto, menos teoria e mais ação, mas também que é do próprio mundo, da escuta da rua que sairão as respostas do que precisamos fazer: um agora ágora (2).
- Frase atribuída ao coletivo Identidad Marrón (Argentina), que luta contra o racismo na América Latina.
- Conformação equivalente à praça pública nas cidades gregas, espaço central para o encontro de seus habitantes, de uso social, político e comercial.