O abismo da maternidade: uma análise sobre o filme “Instinto Materno”
Estamos no subúrbio americano no início dos anos 60 e, ao abordar a atmosfera opressora, velada pela estrutura patriarcal e machista, “Instinto Materno” revela sua parcela de coragem. Com grande e rara riqueza psicológica e atuações deslumbrantes de Jessica Chastain e Anne Hathaway, o filme, dirigido por Benoît Delhomme, aborda um tema fundamental do debate feminista: a maternidade compulsória e o lugar imaginário, designado às mães.
Revelando muito da loucura e devastação constitutivas da maternidade e, também, da ambiguidade da relação entre mulheres que acontece pela via da identificação, “Instinto Materno” descortina uma grande complexidade de assuntos, fazendo lembrar Elisabeth Badinter, filósofa francesa que ensina sobre o mito do amor materno.
O tema também é abordado de maneira brilhante em “Raiva e Ternura”, clássico ensaio em que a ativista americana Adrienne Rich reflete sobre as pressões do papel imposto às mães na criação dos filhos: “Eu era assombrada pelo estereótipo da mãe cujo amor é ‘incondicional’ e pelas imagens visuais e literárias da maternidade como uma identidade com propósito único. Se eu soubesse que existiam partes de mim que nunca seriam coerentes com essas imagens, não seriam essas partes então anormais, monstruosas?”.