A arte e o vazio da existência
Há pouco escutei de um artista e pesquisador da cultura brasileira, Antônio Nóbrega, que a «arte diverte educando ou educa ensinando». Sabemos da importância da conexão entre a arte e a educação, principalmente se as tomarmos em suas acepções mais amplas: a arte como «fazer», como experiência, e a educação no sentido dos antigos gregos, da paidéia.
Sabemos também que, desde o nascimento dos saberes que se ocupam do que se tem chamado «saúde mental», associou-se a arte ao seu dito «tratamento». Atualmente, são muitas as experiências relatadas sobre sua importância na lida com sujeitos em situação psíquica de dificuldade extrema.
No Brasil, no século passado, Nise da Silveira revolucionou a psiquiatria de sua época ao trabalhar com a arte com seus pacientes «asilados»: o ateliê era o lugar central do «tratamento» de seus pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II.
Mas temos, antes disso, por exemplo, a experiência de Van Gogh que, ao fim de sua breve existência, mergulhado na «tristeza e solidão extremas», conforme suas próprias palavras, é aconselhado por seu médico, doutor Gachet – por ele retratado – a entregar-se o máximo possível à sua pintura.
E ele o fez, deixando cerca de 100 obras, entre quadros e desenhos, produzidos nos dois meses que antecederam sua trágica morte. Certo, a arte de Van Gogh não o «curou», mas com ela o artista pôde expressar o indizível de sua dor transmutada nas cores e dança de suas pinceladas.
Se a arte, então, não «cura» – sim, ela não cura, tampouco salva – por que ela é tão importante, indispensável, para o artista e para a humanidade ela mesma? Certo, podemos nos perguntar: por que a arte? E responder, porque a vida não basta!
Mas ela não basta por quê? Por aí então podemos dizer que a arte, o necessário, o imperativo de sua presença está ligado à nossa humana condição: aquela de seres habitados por enigmas, pela incompletude e extremo desamparo.
E, por que não dizer, por um vazio? Somos, os ditos humanos, seres «perturbados» pelo invisível, o inaudível, o intocável, pelo indizível.
E a arte, nos ensinará a psicanálise, que aprendeu com os artistas e suas artes, não somente ilustrará ou adornará o que há de irredutível no estranho/familiar – o Unheimlich de Freud – que nos contitui, mas ela, como o primeiro oleiro que fez o primeiro vaso em tempos imemoriais, organiza o vazio de nossa existência. Isso não é pouca coisa!