Pinacoteca de São Paulo exibe mostra histórica de Lygia Clark

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Hugo Fortes

Lygia Clark é sem dúvida uma das maiores artistas brasileiras do século XX. Tendo iniciado sua carreira em meados dos anos 1950, Clark desenvolveu inicialmente trabalhos influenciados pela abstração geométrica do movimento concretista, para depois buscar experiências mais sinestésicas que buscavam atingir o corpo do espectador em todos os seus aspectos sensoriais. Os trabalhos geométricos da artista passaram a ser realizados com partes de madeira justapostas, criando frestas em suas junções, permitindo que o espaço do mundo penetrasse em sua superfície. Posteriormente, as obras foram ganhando volume até se transformarem em seus famosos “Bichos”, esculturas realizadas com planos de metal unidos por dobradiças que podiam ser manipuladas pelo espectador, que podia alterar suas formas.

A participação ativa torna-se cada vez mais importante na trajetória da artista, que passa a criar não mais objetos físicos para serem olhados, mas proposições artísticas que buscam sensibilizar os corpos de maneira sensorial e psicológica. Surgem então os objetos relacionais, que eram aplicados sobre o corpo do participante de maneira a despertar sensações inconscientes que não poderiam ser verbalizadas. Sua trajetória radical leva-a a afirmar que ela não mais seria artista, mas sim uma propositora ou uma espécie de terapeuta corporal.

Seu trabalho atingiu grande reconhecimento internacional, principalmente a partir do convite da curadora Catherine David para mostrá-lo na Documenta 10, em Kassel, em 1997. Desde então suas obras têm sido mostradas com bastante frequência em exposições no Brasil e no Exterior. A mostra “Lygia Clark: Projeto para um planeta”, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, apresenta um belo panorama de sua carreira, apresentando-a às gerações mais novas. Entretanto, como seu trabalho já vem sendo amplamente discutido e mostrado à exaustão em inúmeras exposições há quase três décadas, talvez seja o momento do meio artístico valorizar também outros artistas da mesma geração que ainda não foram devidamente reconhecidos, ao invés de simplesmente repetir os mesmos nomes já aclamados pela crítica.

 

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Hugo Fortes

Artista visual, curador, designer e professor associado da Universidade de São Paulo, Brasil. Como artista, já apresentou seu trabalho em mais de 15 países, em locais como George-Kolbe Museum Berlin, Ludwig Museum Koblenz Alemanha, Galerie Artcore Paris, entre outros. Em 2016 tornou-se livre-docente com a tese "Sobrevoos entre Homens, Animais, Tempos e Espaços: Pensamentos sobre Arte e Natureza", na Universidade de São Paulo, onde atua como professor desde 2008. Sua pesquisa como artista e como docente é voltada pelas relações entre arte e natureza, com destaque para questões relativas à paisagem, aos animais e à água.