Recicla-me: o duradouro é o transitório, o que a arte pode fazer?
Qual a ligação entre arte, ecologia e coca cola?
Em julho deste ano, o prof. Isaac Camargo, colaborador da nossa coluna ARTE+, escreveu o artigo “Curto-circuito: as relações entre teoria, prática e poética nas artes visuais.”
O texto traz entre outras coisas a questão da banalização do mercado sobre valores humanos e culturais. Como ilustração, traz uma imagem da obra “Inserções em circuitos ideológicos”, de Cildo Meireles. A Ilustração mostra quatro garrafas de Coca-Cola com textos impressos em branco, mas que só se consegue lê-los quando as garrafas estão cheias do líquido escuro. Quando esvaziadas, o texto não se mostra. É nesse vazio do texto que o curto circuito acontece.
Para ler o texto do Prof. Isaac Camargo, clique aqui.
“Antigamente” as garrafas de refrigerante (e outros produtos) eram de vidro e retornáveis, hoje elas são de plástico, muito plástico. O plástico se alastrou para quase todas as garrafas: sejam refrigerante, água, suco em geral, até remédios! Um inferno! Percebendo isso, ou dizendo perceber, as indústrias, de um tempo para cá, começaram a ostentar em suas embalagens a inscrição “recicle-me”.
Ora, elas produzem o plástico, colocam-no em circulação, levam-no aos quatro cantos da terra e pedem-nos para reciclar, pedem-nos para para não produzir lixo. As vezes aparece, também a frase: “a natureza agradece… “Qual natureza? A natureza do mercado? A natureza humana? A natureza ambiental?
Com efeito a natureza- meio ambiente – vem por último, embora ela sirva de cabeça publicitárias para interesses diversos, inclusive contra a natureza. Vejamos um exemplo: Assim como as garrafas, as sacolas de plástico (e outros produtos de plástico), viraram um inferno, elas estão nas casas, nas ruas, no mar, entupindo esgotos, asfixiando peixes.
E tudo isso é consumido com naturalidade. Parece que não podemos viver elas. Você já imaginou uma sociedade sem sacolas, sem garrafas ou redes de pescar de plástico? o plástico tornou-se uma necessidade acachapante, virou produto higiênico, parece que morreríamos sem o plástico, mas na verdade ele é que nos enterra: O plástico é “eterno”, nós somos temporários.
Quando fazemos arte pensamos em eternidade, mesmo que seja, como canta Vinicius de Moraes “eterno quanto dure”.
Como juntar esse pensamento com o “recicla-me” da indústria do plástico que produz lixo e fala em produzir felicidade?
Esse texto continua no próximo post. Até lá!