Recicla-me: o duradouro é o transitório, o que a arte pode fazer?

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Fernando Augusto

Qual a ligação entre arte, ecologia e coca cola?

Em  julho deste ano, o prof. Isaac Camargo, colaborador da nossa coluna ARTE+, escreveu o artigo “Curto-circuito: as relações entre teoria, prática e poética nas artes visuais.”

O texto traz entre outras coisas a questão da banalização do mercado sobre valores humanos e culturais. Como ilustração, traz uma imagem da obra “Inserções em circuitos ideológicos”, de Cildo Meireles. A Ilustração mostra quatro garrafas de  Coca-Cola com textos impressos em branco, mas que só se  consegue lê-los quando as garrafas estão cheias do líquido escuro. Quando esvaziadas, o texto não se mostra. É nesse vazio do texto que o curto circuito acontece.

Para ler o texto do Prof. Isaac Camargo, clique aqui.

“Antigamente” as garrafas de refrigerante (e outros produtos) eram de vidro e retornáveis, hoje elas são de plástico, muito plástico. O plástico se alastrou para quase todas as garrafas: sejam refrigerante, água, suco em geral, até remédios! Um inferno! Percebendo isso, ou dizendo perceber, as indústrias, de um tempo para cá, começaram a ostentar em suas embalagens a inscrição “recicle-me”.

Ora, elas produzem o plástico, colocam-no em circulação, levam-no aos quatro cantos da terra e pedem-nos para reciclar, pedem-nos para para não produzir lixo. As vezes aparece, também a frase: “a natureza agradece… “Qual natureza? A natureza do mercado? A natureza humana? A natureza ambiental?

Com efeito a natureza- meio ambiente – vem por último, embora ela sirva  de cabeça publicitárias para interesses diversos, inclusive contra a natureza. Vejamos um exemplo: Assim como as garrafas, as sacolas de plástico (e outros produtos de plástico), viraram um inferno, elas estão nas casas, nas ruas, no mar, entupindo esgotos, asfixiando peixes.

E tudo isso é consumido com naturalidade. Parece que não podemos viver elas. Você já imaginou uma sociedade sem sacolas, sem garrafas ou redes de pescar de plástico? o plástico tornou-se uma necessidade acachapante, virou produto higiênico, parece que morreríamos sem o plástico, mas na verdade ele é que nos enterra: O plástico é “eterno”, nós somos temporários.

Quando fazemos arte pensamos em eternidade, mesmo que seja, como canta Vinicius de Moraes “eterno quanto dure”.

Como juntar esse pensamento com o “recicla-me”  da indústria do plástico que produz lixo e fala em produzir felicidade?

Esse texto continua no próximo post. Até lá!

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Fernando Augusto

Artista plástico, pintor, desenhista e fotógrafo. Professor do Departamento de Artes da UFES. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP - Sorbonne).