Sobre nascer e outras lembranças
Terei que transcrever esse momento
Vejo nos meus olhos o reflexo do sol
Não é tão óbvio assim
Por um momento me desconheci
Tive que me ver sob as lentes de um outro olhar, de uma outra leitura
Tento me lembrar de uma coincidência que me escapa
Desassossego (parece que escrevi errado, mas é assim)
A memória é tão fugaz quanto a tentativa de agarrá-la
Espero a meia noite para viver meu nascimento
Eu deveria escrever sobre outra coisa, mas o texto se impõe
Tenho que lidar com o que há de pior em mim
Tenho que lidar com o que há de melhor em mim
Após nada enxergar dentro dos meus próprios olhos,
vasculho minuciosamente cada parte do meu corpo através do espelho.
Estranho-me, pois já sou outra.
Na estrada, sob raios e trovões, eu disse uma heresia:
enquanto desviava de um buraco na noite escura, eu disse que se pudesse pararia por aqui.
Me assustei. A verdade é que não posso. A verdade é que não há outra opção.
Seguir é a minha natureza.
Decreto então, o movimento adiante, testemunhando as transformações, as imperfeições, as libertações.
Já não sou mais a mesma
Não é tão óbvio assim
Se fosse a mesma não seria eu, mas essa que se recusou a seguir.
Recordo-me do esquecimento,
de presente, ganho uma pane no sistema de comunicação.
Estou desconectada, enfim.
E agora sim, me lembro bem.