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Coluna ESG

por Felipe Mello

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Por Cintia Dias

Quem é mais sustentável: Tesla ou GM?

Novas tecnologias são criadas com a perspectiva de incorporar comodidade para os clientes e benefícios para o planeta, como é o caso do carro elétrico. Esses automóveis produzem, em média, metade das emissões de carbono de um veículo convencional, ao longo de sua vida útil. Se comparados com os carros a combustão, apresentam menos emissão de gases poluentes, não geram poluição sonora, são abastecidos com energia elétrica, que pode vir de fontes limpas, entre outros benefícios.

Já os carros a combustão liberam resíduos como monóxido de carbono, dióxido de carbono e dióxido de enxofre durante a sua utilização, o que amplia a geração de gases e poluentes. Diante desses fatos, a resposta à pergunta do título parece óbvia: a Tesla, controlada pelo polêmico Elon Musk e um dos expoentes do segmento de automóveis elétricos, seria mais sustentável que a centenária General Motors, com seus carros a combustão.

O que dizem as agências de rating

Mas a análise tem que ser mais apurada, utilizando, inclusive, agências de rating,  como MSCI e S&P, até porque sustentabilidade não diz respeito apenas ao aspecto ambiental. Por meio da primeira agência, observa-se que a Tesla não possui meta de descarbonização, está envolvida de forma severa a moderada em controvérsias que vão de privacidade e dados até direitos humanos e trabalhistas e questões de governança, e alinha-se a apenas três dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, todos relacionados à questão ambiental.

Já a General Motors possui meta de descarbonização, inclusive considerada no cálculo de aumento de temperatura implícito, que cobre 84,81% da sua pegada até 2035, não se envolve em grandes controvérsias, obtendo sinal verde no rating, embora possua alinhamento em apenas três ODS e suas metas de emissões não estejam vinculadas ao Net Zero 2050.

Se o fator de comparação for o S&P Global, a Tesla obtém o score 40 (médio), com maior destaque para o fator ambiental (acima da média do segmento), enquanto a GM alcança a nota 53, acima da média do segmento nos critérios ambientais, sociais e de governança. No ESG Risk Rating, a média da empresa de Elon Musk é 25 (médio), em comparação com os 29,9, também média, da General Motors.

Há, ainda, as particularidades do carro elétrico 

Cabe lembrar, ainda, algumas particularidades do carro elétrico. Embora esse modelo polua 26% menos do que um carro a combustão, sua dívida só se paga após 90 mil quilômetros rodados, quando a emissão zero começa a valer. Isso porque a produção de baterias requer métodos de extração de materiais poluentes, como níquel, cobre e lítio, que causam essa dívida ambiental, o que faz com que os carros elétricos emitam mais antes mesmo de começarem a circular.

Há de se considerar, ainda, que se a matriz energética for menos limpa, o carro elétrico pode vir a requisitar 160 mil quilômetros para se tornar mais verde que o convencional, modelo que pode ser beneficiado, ainda, se usar combustível limpo, como o etanol.

Outro ponto a considerar são as questões relacionadas aos critérios sociais e de governança. Musk é contra sindicatos, enfrenta conflitos trabalhistas como greves e protestos por  melhores condições laborais, ignora padrões corporativos requeridos por investidores e não se enquadra nos requisitos de governança, com críticas como assédio sexual e longas jornadas de trabalho dissociadas de adequada remuneração.

A resposta está nos dados

Dessa forma, fica evidente o motivo pelo qual uma fabricante de automóveis a combustão e dependente de petróleo, como a General Motors, consegue ser mais sustentável do que um modelo mais amigável ao meio ambiente, que ainda carece de aperfeiçoamento no processo de manufatura e impactos negativos como poluição da água e degradação do solo, além de incremento em sua pauta social e de governança.

Portanto, ao analisar o quão sustentável é uma empresa, é necessário mergulhar em seus índices, disponíveis em vários ratings, que evidenciam práticas que vão além das análises superficiais e dicotomia rasa entre modelos de negócios antigos e emergentes.

Cintia Dias

Jornalista, publicitária, mestre em administração, especialista em comunicação, sustentabilidade e marketing e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES