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Coluna ESG

por Felipe Mello

Por Cintia Dias

A festa, a dança e o pertencimento

Uma famosa analogia de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) diz que a primeira consiste em convidar as pessoas para uma festa, enquanto a inclusão é tirá-las para dançar. A futurista e professora da Singularity University, Sally Dominguez, acrescenta mais uma fase à comparação: pertencimento é dançar como se ninguém estivesse olhando, o que está intimamente ligado a um ambiente de confiança.

Muito se tem falado, atualmente, sobre o tema. E não é para menos. Ambientes mais diversos são mais saudáveis, colaborativos e inovadores. São lugares que fomentam a cultura de respeito às diferenças, o que reduz conflitos; estimulam a multiplicidade de conhecimentos e pontos de vista, levando a mais inovação e à possibilidade de atender a um público heterogêneo; ajudam a atrair e reter talentos e reduzir o turn over;  incrementam a reputação, ao permitir que empresas sejam vistas como mais humanas, a partir da gestão de pessoas empática, o que resulta em mais clientes e oportunidades de negócios, entre outros benefícios.

É hora de desafiar estatísticas

Ter uma empresa mais diversa é desafiar os padrões vigentes. Exige revisão de processos e identificação de vieses inconscientes, aqueles que não são identificados por quem os pratica. Dá trabalho. Até porque implica em se confrontar com a realidade em que os públicos minorizados têm menos acesso às possibilidades educacionais, que incrementam sua empregabilidade.

Implica em desafiar as estatísticas, que mostram que homens brancos respondem por 40% de toda a renda recebida no Brasil, ante 25% das mulheres brancas, 20% dos homens negros e 15% das mulheres negras. A taxa de desemprego é 50% maior entre pretos do que entre brancos, mesmo percentual que divide homens de mulheres, o que força uma parcela significativa dessa população a viver no mercado informal de trabalho. O pesquisador Pedro Nery diz que se a carteira de trabalho fosse uma pessoa, seria um homem branco mais velho do Centro-Sul do país, perfil de quem ocupa as melhores vagas laborais.

A importância das políticas públicas

Corrigir esse panorama exige políticas públicas e ações sociais desde a infância, que é a porta de saída da pobreza. As empresas devem agir em longo e curto prazo para resolver essa questão: em um horizonte mais vasto, reconhecer que podem contribuir para mitigar as mazelas sociais, que causam a desigualdade de oportunidades de trabalho. Problemas sociais são, sim, questões afetas às organizações. Em curto prazo, devem construir políticas e processos empresariais para inserir esse público em sua folha de pagamento.

São alguns exemplos: concessão de bolsas de estudos, cotas e vagas afirmativas, redução de exigências exageradas de competências em processos seletivos, criação de um ambiente inclusivo e com respeito às diferenças, disponibilização de comitês internos de diversidade, entre outros. Afinal, não basta selecionar um candidato oriundo de uma população minorizada, é necessário que este se sinta acolhido e tenha suas necessidades respeitadas.

Precisamos parar com o desperdício

Não é possível mais desperdiçar o potencial humano que advém da diversidade. As empresas  não podem mais permitir que mulheres tenham 20% menos probabilidade de terem suas ideias ouvidas que homens brancos heterossexuais, percentual que chega a 24% no caso de pessoas negras e 21% do público LGBTQIA+.

Agir em prol da Diversidade, Equidade e Inclusão é agir para que a sociedade tenha, em médio prazo, grupos de colaboradores mais heterogêneos, empresas mais humanas e inovadoras, mercado informal de trabalho reduzido, educação mais acessível e diminuição da pobreza. É promover a festa, ampliar a lista de convidados e deixar que cada um dance do seu jeito e no seu ritmo.

Cintia Dias

Jornalista, publicitária, mestre em administração, especialista em comunicação, sustentabilidade e marketing e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES.