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Coluna ESG

por Felipe Mello

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Por Cintia Dias

Como a governança pode combater o greenwashing?

As empresas que incorrem na prática de greenwashing, ou seja, divulgar iniciativas sustentáveis que não são suportadas por fatos, exagerando-as ou escondendo suas fragilidades, podem ser contidas por práticas de governança, o conjunto de princípios, regras, estruturas e processos que empresas adotam para gerar valor compartilhado, voltado para uma contribuição positiva para a sociedade e para o meio ambiente.

Isso porque empresas dotadas de uma boa governança instituem mecanismos de gestão responsáveis, pautados em fundamentos como ética e um propósito direcionador da estratégia e da cultura. São princípios da governança corporativa a integridade, a transparência, a equidade, a responsabilização e a sustentabilidade. Tais princípios blindam a organização do greenwashing, à medida em que direcionam suas iniciativas para a coerência entre discurso e ação; disponibilização de informações verdadeiras, claras e relevantes; tratamento justo a todas as partes interessadas; desempenho diligente e prestação de contas; e interdependência com o ecossistema social.

O papel da materialidade

Um robusto sistema de governança, composto por agentes que são os seus guardiões, bem como políticas e procedimentos que prevejam como lidar com conflitos de interesses, controvérsias entre sócios, riscos organizacionais, transações entre partes relacionadas e tratamento de informações, entre outros aspectos, garante que a imagem decorra da estratégia, e não o inverso. Quando empresas partem da reputação que querem obter no mercado para depois agirem, o caminho está pavimentado para o greenwashing.

Além de todo o sistema de governança, que é capaz de identificar e repelir o greenwashing, empresas pautadas por seus princípios ainda possuem outros mecanismos de defesa. Um deles é a matriz de materialidade. Há aqueles que, equivocadamente, associam tal matriz aos relatórios integrados ou de sustentabilidade. Na verdade, a matriz direciona a estratégia da empresa a partir das questões relevantes elencadas pelos seus stakeholders. Naturalmente, é citada também no relatório, mas não pode ser elaborada apenas para fins de divulgação de resultados (eu ouvi greenwashing?).

A elaboração da matriz, a partir da escuta ativa das partes interessadas, definirá a atuação da empresa no campo da sustentabilidade, com a definição de ações e métricas para acompanhar seu desenvolvimento. Fica muito mais difícil incluir ações vazias e frágeis quando se atua a partir de uma plataforma tão consistente, que permite que ações rasas sejam facilmente identificadas pelos stakeholders envolvidos. 

A segunda medida que merece ser resssaltada é o relato “pratique ou explique”, exigido das empresas de capital aberto, embora seja uma boa medida a ser adotada por todas as organizações. Tal relato exige que as empresas indiquem se aplicam as práticas previstas ou justifiquem, caso não o façam. A empresa pode até ter a liberdade de não adotar certa iniciativa, mas tem que assumir a transparência de explicar o motivo pelo qual não o faz. Já há casos de nações e empresas que adotam o “pratique e explique”, de forma a disponibilizar os dados que confirmam que a prática é, efetivamente, uma realidade. 

Novas exigências estão a caminho

Há de se considerar, ainda, que o cerco vem se apertando contra o greenwashing. O arcabouço regulatório torna-se mais rígido e exige das empresas de capital aberto, até 2026, a divulgação obrigatória de riscos climáticos e práticas ESG, junto com suas demonstrações financeiras. Muitas terão que incrementar mecanismos de governança e controles internos para analisar riscos e oportunidades ESG. Ainda que seja algo exigido apenas de empresas de capital aberto, é um importante instrumento para incrementar as práticas de governança e inspirar outras organizações a adotar o mesmo movimento. 

Dess forma, greenwashing se torna incompatível com empresas com governança forte. A prática de um torna inviável a existência da outra. Porque se uma empresa que diz ter governança pratica greenwashing, na verdade ela não o possui, ou seu sistema é extremamente frágil e deficitário. Ou seja, a própria afirmação de seguir os princípios de governança revela-se, por si só, um washing.

Cintia Dias

Jornalista, publicitária, mestre em administração, especialista em comunicação, sustentabilidade e marketing e membro do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES