Saiba como usar a arte para construir o pensamento crítico
Para ser juiz de um concurso de comidas ou árbitro de futebol, o indivíduo necessita de um saber tácito, ou seja, uma habilidade/conhecimento/perícia adquirida ao longo da vida, pela experiência pessoal. Resumindo, é necessário que essa pessoa entenda do que está falando.
Porém, no campo das ciências humanas, a Arte, por se tratar de algo subjetivo, livre de exatidão, é alvo fácil de opiniões diversas. Qualquer peça, seja visual, arte sonora, imersiva, torna-se facilmente um objeto de disputa crítica. É um ambiente que provoca e instiga-nos a opinar.
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Seja uma obra visual, que nos confronta com suas formas e cores, uma composição sonora que nos transporta para novos universos sensoriais ou uma experiência imersiva, que nos envolve completamente, a Arte revela-se como um espelho da diversidade humana e um convite constante à reflexão e ao diálogo.
Por um lado, isso é maravilhoso! Pois democratiza a experiência humana e sensível, nos convidando a falar o que nossa mente já está processando, antes mesmo que tenhamos a noção do que ocorre. Ao entrar em uma instalação artística, como as de Ernesto Neto por exemplo, com sua dinâmica polissensorial, fica quase impossível controlar os pensamentos.
Um pode pensar: “Quem é esse cara? Como ele faz essas coisas? Que estruturas horrorosas…”. Enquanto outro pode pensar: “Nossa, eu amei esses aromas, essas tramas, quero abraçar essa obra”. Quem tem razão?
No campo da arte contemporânea, todos sentimos e reflexionamos, mas para desenvolver um pensamento crítico pertinente, precisamos, como em outras ciências, construir o conhecimento tácito.
Para isso, existe a educação artística, as atividades lúdicas, os trabalhos de visitação a exposições, oficinas de arte propostas por museus e fundações culturais: essas são as experiências que fornecem, em nossa construção como indivíduos, as ferramentas para criar juízos de valores, que vão além da ideia clássica do “belo”.
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Além disso, a capacidade da crítica de arte, o dito pensamento crítico, é altamente variável e subjetiva: ele será composto das experiências estéticas de cada um, podendo, cada visão crítica, ser diversa da outra, ainda que concordem em vários pontos.
De acordo com Cecília Almeida Salles, em seu livro “Gesto inacabado: Processo de criação artística” (1998, p. 89) : “Anotações, esboços, filmes assistidos, cenas relembradas, livros anotados, tudo tem o mesmo valor para o pesquisador interessado em compreender o ato criador e está, de algum modo, conectado.”
Conheço muitas pessoas que dizem: “Eu não entendo de arte, mas amei tal trabalho”. Isso se dá porque a reflexão e pensamento crítico é natural da vida em sociedade. E ele pode, sim, ser ampliado, provocado, modificado. Pois o pensamento crítico é desenvolvido através da observação e ação artística. Daí a importância de incentivar a criança a fruir a arte e de expressar verbalmente sua percepção.
Salles (1998, p. 90) nos diz: “A natureza já mostra essa mediação: a manifestação do arco-íris não depende só do sol e da terra, mas também do homem, pois o arco-íris acompanha seu espectador quando este se movimenta. Daí cada um ver um arco-íris diferente.”
Convido, assim, a cada pai, mãe, professor, a apresentar uma obra (pode ser da natureza, inclusive) a sua família ou alunos, e lançar algumas perguntas, por exemplo: “O que você acha? Você gosta? Porque você gosta? E se não gosta, porque é assim?” As respostas podem ser surpreendentes, e por conseguinte, um exercício do pensamento crítico visual.