Reflexões sobre a percepção estética e aprendizado com as imagens

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Andreia Falqueto

De uma perspectiva literal, existe um momento na educação estética onde aprendemos a ver, a perceber, e questionar o mundo que nos cerca.

Assim, nesses ditos momentos, a criança terá contato com estímulos visuais e táteis que a ajudarão a entender esse mundo, e de que forma pode interagir, praticando, assim, também, sua própria expressão.

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Importância da percepção estética

A palavra estética vem do grego aisthesis, que significa “apreensão pelos sentidos”, “percepção”. Ou seja, todo e qualquer estímulo sensorial é uma forma de estética.

E assim, essa troca de percepções com o que nos cerca, nos auxilia a construir a possível tendência de expressar-se artisticamente.

De fato, cada estímulo que recebemos através dos nossos sentidos contribui para a nossa percepção estética do mundo ao nosso redor.

Essa troca contínua de percepções, esse diálogo constante entre o que nos cerca, desempenha um papel fundamental na formação de nossa sensibilidade estética e na maneira como interagimos com o ambiente ao nosso redor.

Experiência do novo no cinema

Eu me lembro bem quando tive a noção de uma expressão artística visual que me tocou, e me ajudou verdadeiramente a ter uma percepção estética (ainda que eu não conhecesse esses termos).

Quando fui ao cinema pela primeira vez, no Cine Metrópolis da Ufes, com minha mãe e minha irmã, assistir Hook (1991). É um filme sobre piratas, magia, fadas e sereias.

O que foi aquilo? Uma explosão de sons, cores, formas, narrativas, ritmos visuais… A parte mais mágica é que eu não sabia ler ainda.

Era a experiência do novo: uma nova forma de apreender imagens (diferente da televisão) e a legenda, que não era para mim todavia inteligível, não fazia tanta falta: a narrativa se construiu pelas imagens e sons.

Papel da arte na educação infantil

Joseph Campbell afirma, em sua obra O Poder do Mito (1990, p.16), que “Existe algo mágico nos filmes. A pessoa que você vê está ao mesmo tempo em algum outro lugar.”

Ou seja, aquele que está na tela, está interpretando um papel, vivendo uma história para nossa apreensão moral e visual.

Então, em certa medida, quando a criança assiste a um filme, ainda que ela não entenda o que está acontecendo à sua frente, ela está se relacionando com imagens (técnicas, conforme descrito por Vilém Flusser) e está tendo contato com imagens que atravessam o real (diferente do teatro) e lhe proporcionam novas ferramentas mentais para interagir com o mundo, agregando substantivos visuais a sua biblioteca mental.

Da mesma maneira, parece pertinente selecionar qual conteúdo será agregado como fonte de percepção para nosso aprendizado visual.

E isso torna-se uma tarefa incrível para genitores e educadores! Cada nova geração possui uma quantidade maior de dever de casa a ser feito, no sentido de apreender o mundo e as criações humanas. Mas daremos um passo de cada vez. De acordo com Vygotsky (2003, p.238):

“A humanidade mantém, através da arte, uma experiência tão enorme e excepcional que, comparada com ela, toda experiência de criação doméstica e conquistas pessoais parece pobre e miserável. Por isso, quando se fala de educação estética dentro do sistema de formação geral, sempre se deve levar em conta, sobretudo, essa incorporação da criança à experiência estética da humanidade”.

Assim percebo a grande importância que tem a arte (em suas mais diversas linguagens) no papel de formação da percepção dos pequenos, e entendemos que a cada nova experiência apresentada aos educandos, ocorre um momento não apenas de apreensão do mundo, mas também, de autoconhecimento.

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Andreia Falqueto

Artista visual e professora, mestra e Doutora em Artes pela Universidade de Granada/Espanha. Bacharel em Artes Plásticas e Mestra em Artes pela UFES. Representada pelo instituto Iadê/São Paulo e galeria Sur/Espanha. Trabalha com pintura, desenho, objetos e instalações.