Importância da família no desenvolvimento dos filhos

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Ana Carolina P. Carvalho

No artigo de hoje abordarei a importância das famílias na formação da criança para a vida adulta. Refiro-me à formação enquanto maturação das instâncias psíquica, cognitiva e fisiológica do infante, que interferirão na maneira com a qual ele lidará com a própria existência no mundo. 

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Nessa seara não há cartilha com passo a passo sobre maternidade e paternidade, muito embora tenha sido fetichizado em ritualísticas de parto e criação.

Contudo, também não significa que não haja alicerces e sustentáculos que competem às famílias no cuidado dos filhos. Pelo contrário, a atuação parental é elementar!

Papel da família no desenvolvimento psíquico e cognitivo

O primeiro contato do sujeito com a cultura (discursos, normas, costumes) e introdução nela se faz por aquele que cuida, em primeira instância, a mãe.

Ao atender ao choro da criança, interpretado como fome ou dor, ao corresponder aos olhares, ao abraçar, ao conversar, ao desejar esse outro (o bebê), avança-se na constituição do psiquismo, do senso de unidade corporal pela criança, da linguagem, por meio da interpretação, do acesso à realidade e à vida.

Por concepção, somos seres necessitados de um outro para sobreviver no mundo. Sem o desejo de um outro, encontrado na função maternal, inconsciente ou não, a existência não se consolida.

Estrutura familiar e funções parentais

Seja a estrutura familiar que se apresente, as funções parentais garantem a constituição do indivíduo, de modo que ele consiga encontrar um caminho próprio e reconhecer-se alguém, diferente dos pais, posteriormente.

Quando digo função parental, ela pode ser exercida por avô/avó, tio/tia, pai e/ou mãe biológicos ou adotivos, ou casal homoafetivo, que cumpram com o papel do cuidado e da introdução da ordem na vida da criança. 

Portanto, o amor perpetua a vida e a lei sujeita o ser a coexistir com o outro. Um indivíduo não pode, consequentemente, viver imerso e fundido ao desejo da mãe para sempre.

A interdição (função paterna que pode ser exercida por alguém ou algo, como a profissão da mãe que estabeleça o limite) precisa agir nessa relação, mais à frente, para que a criança, já bem amparada, também entenda que para além de ser amado, não é um pedaço da mãe e tão pouco seu único objeto de desejo.

A criança é um ser diferente dela (mãe) e tem desejos próprios, com os quais terá de lidar, naquilo que consegue assumir ou abdicar para a convivência social. Todos nós pagamos um preço para tanto e, por essa condição, somos responsáveis, nos ensina a psicanálise.

Importância do limite e do autoconhecimento

Tais eventos acontecem na estrutura familiar e podem ser revividos na estrutura social, sendo na escola e no trabalho, por exemplo. Portanto, sim, cuidar quando há desamparo é importante tanto quanto impor limites.

Viver a frustração e a negativa é lidar com a sobrevivência, é enfrentar a falta, é ultrapassar o desafio, é descobrir-se capaz de transpor problemas. Aprende-se isso na infância e estará apto para a vida adulta.

Ademais, saiba, por tanto, que nem tudo “é culpa da mãe”. As famílias devem cumprir com a responsabilidade da criação, mas com o amadurecimento, o indivíduo deverá decidir como lidar com as falhas e demandas da família, do trabalho, do outro e de si, uma reflexão que fiz com os jovens em meu texto anterior.

Transformações do mundo

Olhemos para as transformações do mundo, do trabalho e das mudanças geopolíticas. Observemos os passos da sociedade, as relações e as incidências de adoecimento psíquico.

Seguimos animados com as investidas tecnológicas e da inteligência artificial, mas, por outra via, os índices de depressão e suicídio crescem no mundo.

Confiamos numa inteligência artificial (IA) e não sabemos quem somos ou o que faremos dos nossos desejos. Não estimulamos o autoconhecimento e delegaremos à IA o raciocínio.

Mas, veja a ironia da vida: não conseguiremos utilizar a IA se não entendermos a teoria pura, o pensamento lógico que a filosofia ensina, a matemática e o diálogo, com uma máquina, que dirá diálogo com um outro ser humano. 

Laço familiar e o ensino do diálogo

Sabemos que quando a habilidade do diálogo, do sentido e do enfrentamento do real falham, pode sobrevir a agressividade com o outro ou com o próprio indivíduo, pode sobrevir o sofrimento diante do imperativo imaginário de que expectativas não são atendidas, de esperar ser feliz e não ser como almejava-se ou sentir-se incapaz de assumir algo para si, pode sobrevir a fuga e a inibição.

Nisso, advêm em discurso os filhos “rebeldes”, os “adoentados”, os “que nada querem”, os “que não aprendem”, os que “não tem jeito”.

O que fará então a família? Fará o primordial. 

A partir do laço familiar, ensinar o diálogo, reconhecer os limites dos filhos e ajudá-los a enfrentá-los. Admirar os feitos, estabelecer o respeito mútuo e a expressão das emoções por meio da fala, administrando-as.

Estimular a confiança nas relações e em si mesmo. Perpetuar a convivência com o outro por meio do amor. Assim, haverá avanço para a vida adulta, haverá avanço social.

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Ana Carolina P. Carvalho

Mestra em Administração de Empresas pela FUCAPE Business School. Pós-Graduada em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas. Psicóloga e psicanalista. Atualmente é Gerente de Desenvolvimento Humano da Faculdade FUCAPE, atuando nas frentes de carreiras, gestão de pessoas, saúde mental e desenvolvimento do ensino multidisciplinar.