Ruth Rocha renova contrato com editora aos 93 anos
A escritora Ruth Rocha acaba de renovar contrato com a editora Salamandra por mais 13 anos. Ela tem 93. Uma incansável! É de um período do surgimento de grandes autores e autoras da literatura infantil brasileira, dos anos 1970 e 1980.
Faz coro com Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes, Tatiana Belinky, Bartolomeu de Campos Queirós, Ziraldo e autores e ilustradores, como Eva Furnari e Ângela Lago. Um tempo do aparecimento de feras!
Homenagem a uma pioneira da literatura infantil
Este texto foca e homenageia Ruth Rocha, em especial, que tanto contribuiu para a formação de leitores e para a abordagem, junto às crianças, de temas tão caros e importantes para nossa sociedade, como preconceito, diversidade, autoritarismo e liberdade.
Tudo, com humor, leveza e arte! Foram muitos os livros de sua autoria lidos para meus filhos quando crianças, motivos garantidos de risos e muitas conversas: O amigo do rei, O menino que aprendeu a ver, A menina que aprendeu a voar, Uma história de rabos presos.
Marcelo, marmelo, martelo: reflexões sobre a língua
Marcelo, marmelo, martelo, em específico, esteve muito presente nas aulas com as antigas 5ªs e 6ªs séries: estímulo lúdico e bem-humorado, provocador de discussões sobre a língua e suas convenções, quase sempre arbitrárias.
A obra foi traduzida para vários idiomas e tornou-se série. Na visão do garoto Marcelo, não faz sentido o objeto “colherzinha” se chamar “colherzinha”. Ora! Melhor seria “mexedorzinho”, “de mexer café”, questiona o menino.
O reizinho mandão e os desafios da educação infantil
Além deste livro, há outro muito significativo para a mãe e a professora que eu buscava ser: O reizinho mandão. Trata-se da história de um menino mimado e mal-educado que mandava todo o mundo “calar a boca”.
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De minha parte, a preocupação com a independência e autonomia das crianças convivia sempre com o receio de empoderá-las demais, a ponto de elas quererem determinar tudo, com base nos seus desejos infantis, ainda sem o crivo da responsabilidade, do respeito ao outro e sem a consciência da necessidade de um amadurecimento para certas decisões.
O medo de ver um filho, no “alto” de seus cinco anos, com o dedo indicador voltado para o nariz de um adulto (incluindo o meu) não estava no rol de possibilidades, embora pretendesse formar pessoas questionadoras e críticas e, dentro do possível, com algum poder de decisão.
No entanto, como dosar esses limites? Liberdade, autonomia, espaço para escolhas, até certo ponto: sim! Porém, reizinho mandão: não!
Equilibrando autonomia e autoritarismo infantil
Ao observar o comportamento de pais e filhos no cotidiano – no supermercado, no restaurante, na praia – não é difícil se detectar a dificuldade de muitos em estabelecer fronteiras entre o estímulo à autonomia das crianças e o autoritarismo infantil, entre o querer dos pequenos e seu poder ilimitado.
Se os extremos não se equilibrarem suficientemente, é possível que nossos filhos, de príncipes da casa, transformem-se em reizinhos cheios de si e nem um pouco preocupados com os outros. É preciso, portanto, muita observação e constante autocrítica dos adultos.
Mãe, pai, avó, avô, tia, tio, professora, professor, não deixem de conferir esta e, se puderem, o conjunto da obra dessa grande autora. Leia com e para as crianças. Leia para você mesmo(a).
Vida longa para Ruth Rocha!