Saber que não se sabe tudo

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Prof. Dra. Kathy Marcondes

É conhecida a afirmativa de Sócrates quando anunciaram sua escolha como o mais sábio homem de seu tempo. Espantado disse: “Como pode ser isso? Logo eu que sei que nada sei?”. Justo por isso, talvez, sua história não foi esquecida.

Em tempos de Inteligência Artificial… dúvidas sobre as possíveis profissões dos filhos… dificuldades de bater a nova meta exigida pelo mercado… decepção em relação ao peso na balança… e da sensação generalizada de “falta de tempo”… nestes tempos… saber que não sabe, que não se sabe tudo, pode ser extremamente benéfico.

Trocar a palavra PERFEIÇÃO (aquela que atrai o perfeccionismo) por SUFICÊNCIA ajuda a destensionar. Se nossas decisões e atitudes não puderem ser ou não resultarem em algo perfeito… se foram suficientes, já estamos no lucro. Avaliar a suficiência é mais palpável que alcançar a perfeição.

Se a premissa é que não sabemos tudo e que, portanto, não daremos conta de tudo o tempo todo (e a saúde está nesta categoria de coisas em permanente realinhamento com nossa vida e escolhas…) já entenderemos que a perfeição é uma busca cara. A suficiência é uma busca perfectível.

Se as escolhas profissionais não lograrem o êxito ou se seu filho não foi o primeiro a ler na sala de aula… precisamos avaliar se os esforços empregados foram suficientes. Só isso. O que estava dentro de nossa possibilidade fazer foi feito? 

Se concluirmos que ALGO MAIS podia ter sido feito para que a meta fosse alcançada ou a saúde preservada, então estas ações devem ser ordenadas como prioritárias dentro da nossa realidade. 

Se avaliarmos que o que podíamos fazer era insuficiente, busquemos a suficiência. E aguardemos (na paz de Deus!) os resultados! Aguardemos. 

A realidade é aquela que é. A realidade não pode ser mudada para traz… a realidade não é o que virá. Logo, embora haja grande quantidade de previsibilidade no real (como resultado das ações e condições antecedentes) não há como se “saber de tudo”. Nos exigir perfeição requer grande desconhecimento da realidade. A realidade é o que é e sofre influências muito além das condições que podemos prever e controlar.

Essa é a graça da vida!! Inclusive. 

Gastemos um tempo ponderando sobre as coisas que não estavam programadas ou previstas e que encheram nossa vida de alegria, sentido e empolgação com viver. Então veremos que muitasssss coisas boas vieram do que não “sabíamos” que aconteceria, não é mesmo? 

Essa é a Vida: uma expert em mudanças e imprevistos acima de nosso mero controle.

As coisas da Vida podem ser associadas a muitos adjetivos e substantivos: são prováveis, reais, concretos, possíveis, contratuais, etc etc etc… mas nunca são permanentes.

Sócrates e Sidarta sabiam disso. A impermanência é o fruto maduro da realidade da Vida. 

Saber que não se sabe tudo nos permite escolher estar aberto para aprender tanto a tolerância quando a eficácia! Podemos aprender a trocar a auto exigência de perfeição por um comprometimento genuíno com a suficiência. 

De repente… nos tornaremos então… mais sábios, mais firmes, mais verdadeiramente críticos (e não maldosos), mais bondosos, mais polidos, mais humildes, mais atenciosos com a relevância das coisas que exigimos de nós e dos outros. 

A suficiência liga-se a sustentabilidade. A perfeição… a ideia de que devemos, podemos e iremos ser perfeitos… imbatíveis… majestosos… essa “perfeição” liga-se à prepotência humana…  

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Prof. Dra. Kathy Marcondes

Psicóloga Clínica, psicoterapeuta na abordagem junguiana; foi Prof. Titular de Psicologia da UFES; Pós-doutora em Educação, Mestre e Especialista em Psicologia Analítica; Especialista em Mitologia, Arte e Literatura; formações em Hipnoterapia, Biblioterapia e Arteterapia. Autora de livros e palestrante. kathymarcondes.com.br tem alguns outros textos seus.