Arte-educação: veja como incentivar a criatividade na era da tecnologia

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Lara Brotas

No contexto de um mundo cada vez mais orientado pela tecnologia e pela automação, é essencial não perder de vista o que nos torna genuinamente humanos: a capacidade de criar, sentir e refletir. A arte-educação, nesse cenário, desponta como um campo fundamental para a construção de indivíduos mais conscientes de si mesmos e de suas relações com o outro e com o mundo.

Mais do que preparar pessoas para o mercado de trabalho, a arte tem o papel de fomentar a sensibilidade, a imaginação e o pensamento crítico — dimensões que integram a formação do sujeito em sua totalidade.

Por meio da prática artística, os alunos são encorajados a explorar tanto a si mesmos quanto o mundo ao redor de maneira profunda e significativa. O desenvolvimento cognitivo promovido pela arte não se restringe a habilidades racionais ou técnicas, mas abrange também a capacidade de perceber o mundo de forma sensível e crítica.

O processo criativo oferece ao indivíduo a oportunidade de ampliar sua percepção, ressignificar suas experiências e cultivar a criatividade como uma forma singular de expressão.

Nesse contexto, a arte-educação destaca-se por permitir que crianças e jovens desenvolvam uma relação íntima com o sensível, o que desperta neles a capacidade de compreender e interpretar suas próprias emoções, assim como as dos outros.

Através da expressão em cores, formas, sons e movimentos, o indivíduo constrói um vocabulário emocional que vai além da linguagem verbal, facilitando a comunicação de sentimentos e experiências que muitas vezes não podem ser traduzidos em palavras.

Essa relação direta com o sensível é vital para o desenvolvimento da inteligência emocional e do senso de alteridade, fatores indispensáveis para a construção de uma convivência social mais empática e colaborativa.

Além disso, a arte-educação favorece o desenvolvimento do pensamento crítico e da imaginação. Ao propor questionamentos sobre a realidade e ao incentivar a exploração de diferentes perspectivas, ela desafia o aluno a sair do lugar comum e a buscar novas formas de ver e entender o mundo.

Essa capacidade de questionar e refletir sobre a própria experiência e a realidade externa é fundamental para a construção de um sujeito autônomo, capaz de tomar decisões conscientes e criativas em sua vida pessoal e coletiva.

A arte também desempenha um papel central na organização da experiência humana, especialmente durante a infância. As crianças, ao interagirem com diversas manifestações artísticas, desenvolvem a capacidade de ordenar suas percepções e dar sentido ao mundo que as cerca. Isso não apenas contribui para seu desenvolvimento cognitivo, mas também fortalece sua autoestima e identidade, ao reconhecerem o valor de suas criações e de suas percepções individuais.

Dessa forma, a arte-educação não pode ser reduzida a uma ferramenta pedagógica para o desenvolvimento de habilidades técnicas, mas deve ser reconhecida como um caminho para a formação integral do indivíduo. Ela proporciona um contato genuíno com o sensível, que é essencial para a construção de uma subjetividade rica e diversificada.

Em tempos de rápidas mudanças e incertezas, a arte-educação revela-se como um espaço fundamental para o desenvolvimento de indivíduos capazes de sentir, criar, refletir e se relacionar plenamente com o mundo e com os outros.

O futuro da educação foi debatido em um recente evento promovido pela Apex Partners e pela Rede Vitória de Comunicação na Escola Americana de Vitória. O Data Business Educação discutiu temas centrais, como o papel da educação contemporânea, o futuro da educação, inovações pedagógicas, o impacto social da educação e o ensino superior como propulsor do desenvolvimento.

As capacidades cognitivas e de performance, como criatividade, senso crítico e agilidade, emergem como competências difíceis de automatizar, e, por isso, são cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho. De acordo com gestores de Recursos Humanos, as habilidades cognitivas aparecem como critério central em 29% das contratações, enquanto as habilidades de performance são apontadas em 25% das seleções.

Esses aspectos superam, em importância, as habilidades tecnológicas (18%, ainda em crescimento) e de gestão (13%) no momento da contratação.

Esses dados reforçam a relevância de habilidades vinculadas ao pensamento crítico e à criatividade, uma vez que são atributos distintivos da atuação humana frente ao avanço da automação. O desenvolvimento dessas competências, frequentemente promovido pela arte-educação, capacita o indivíduo não apenas para atender às demandas do mercado, mas também para atuar como um agente inovador e reflexivo em diversos contextos profissionais.

A cognição emerge como um eixo central nas discussões sobre educação e o futuro do trabalho, em um cenário profundamente impactado pela automação e pela disseminação de tecnologias avançadas. A crescente demanda por habilidades cognitivas sofisticadas, como criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas e capacidade analítica, tem se destacado como fator determinante para a formação de profissionais adaptados às novas exigências de um mercado em constante transformação.

Esse fenômeno reflete a substituição gradual de competências físicas e manuais por aquelas de natureza mais intelectual e emocional.

Nesse contexto, a arte-educação desempenha um papel fundamental no desenvolvimento dessas competências cognitivas superiores. Ao estimular a criatividade, a tomada de decisões e a resolução de problemas, a arte promove o desenvolvimento integral dos indivíduos, favorecendo tanto as dimensões cognitivas quanto as socioemocionais.

Através do envolvimento com atividades artísticas, os alunos não apenas exercitam suas habilidades de expressão e comunicação, mas também aprendem a lidar com a complexidade do mundo contemporâneo de maneira crítica e inovadora.

O impacto da arte-educação no desenvolvimento cognitivo pode ser observado em diversos aspectos. A prática artística permite que os indivíduos explorem novas formas de pensar, conectando-se a múltiplas possibilidades e realidades.

Além disso, a arte serve como uma ferramenta poderosa para a organização do pensamento, ajudando a desenvolver a capacidade de abstração, análise e síntese. Esse processo contribui significativamente para o amadurecimento das capacidades intelectuais, que serão cada vez mais requisitadas em um ambiente de trabalho moldado pela tecnologia e pela inteligência artificial.

Portanto, ao reconhecer a arte-educação como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento cognitivo, não estamos apenas preparando indivíduos para os desafios futuros, mas promovendo uma formação integral que engloba o pensamento crítico, a criatividade e a sensibilidade social.

A integração da arte no processo educacional, assim, transcende o papel meramente lúdico, assumindo uma função estratégica na promoção de habilidades que serão fundamentais no futuro do trabalho, no qual a cognição se estabelece como uma das principais competências para o sucesso profissional e pessoal.

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Lara Brotas

Mestre pela UFRJ com estudo sobre Museu Picasso, Fundação Antoni Tapies e Fundação Joan Miró. Cofundadora da Matias Brotas, atua na área de arte contemporânea, curadoria, gestão cultural e de projetos. Membro do Núcleo de Arte, Cultura e Educação (Nace), com especialização em História e Teoria da Arte. Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Multivix. Atualmente cursa Pós-graduação em Gestão Cultural na USP SP.