Ortografia: veja dicas para aprender brincando e ensinar com eficiência
Hoje, trago uma recomendação de leitura valiosa para professores, pais e demais interessados em educação. O livro “Jogos para ensinar ortografia: ludicidade e reflexão”, dos pesquisadores Artur Gomes de Morais e Tarciana Almeida, da Universidade Federal de Pernambuco, aborda o ensino da ortografia com base em estudos recentes.
O sistema de escrita do português tem base alfabética, registrando os menores sons das palavras, os fonemas. Para que os alunos comecem a se apropriar da escrita, eles precisam entender que ela não reflete a aparência ou a função dos objetos, mas sim os sons das palavras faladas.
Para escrever, é necessário perceber que as palavras contêm sílabas orais, e que essas sílabas, por sua vez, são formadas por unidades menores, os fonemas. Esse processo leva os estudantes à compreensão da hipótese alfabética de escrita.
Essa hipótese se relaciona ao princípio alfabético, que consiste em associar letras aos sons das palavras. Tal habilidade é essencial tanto para ler quanto para escrever. No entanto, poucas letras seguem estritamente essa correspondência, já que a escrita é um sistema historicamente construído, não uma transcrição exata. Isso explica as diferentes formas de representar o mesmo som, como o fonema /s/ em “sapo”, “assar”, “cebola”, “paçoca” e “auxílio”.
Cada língua estabelece convenções ortográficas para padronizar a escrita e facilitar a comunicação entre os falantes. Essas convenções são essenciais para uniformizar as variações linguísticas entre os usuários de uma mesma língua. O último acordo ortográfico, por exemplo, teve como objetivo unificar os países de língua portuguesa, sendo adotado pelo Brasil em 2009 e por Portugal em 2010.
O que se sabe hoje sobre aprendizagem da ortografia?
Por que se escreve “carro” com “rr” e “roda” com “r”? Ou por que “casa” se escreve com “s” e não com “z”? Durante muito tempo, acreditava-se que expor os alunos a bons modelos de escrita seria suficiente para evitar erros ortográficos. Contudo, estudos recentes indicam que o ensino da ortografia deve ser explícito e sistemático para ser realmente eficaz.
Os autores propõem que, para alcançar um bom desempenho ortográfico, as crianças não devem se limitar à memorização de palavras isoladas. É necessário que desenvolvam uma consciência clara das regras da língua. Assim, para que os estudantes escrevam de acordo com a norma-padrão, é fundamental que compreendam tanto as regularidades quanto as irregularidades da língua e saibam como aplicá-las.
Como sistematizar esse conhecimento?
A ortografia é composta de regularidades e irregularidades. As regularidades seguem um princípio gerativo, ou seja, uma regra pode ser aplicada em diversos contextos. Há regularidades diretas, morfológico-gramaticais e contextuais, como as que explicam por que escrevemos “japonesa”, “portuguesa” e “inglesa” com “s”.
Já as irregularidades são aquelas que não seguem regras generalizáveis. Não há, por exemplo, uma regra que explique por que “girassol” é escrito com “g” e “jiló” com “j”. Nessas situações, o aluno deve recorrer à memorização. A escola deve priorizar o ensino de palavras irregulares de uso frequente, como “homem”, “hoje” e “hora”, em vez de palavras menos comuns como “harpa”, “holofote” e “hélice”.
Sistematizar esse conhecimento com os aprendizes é fundamental para garantir que eles desenvolvam uma compreensão sólida da ortografia. Ao ensinar as regularidades, os alunos conseguem aplicar as regras a um grande número de palavras.
Quanto às irregularidades, a escola deve garantir que os alunos tenham a oportunidade de memorizá-las de forma eficaz, priorizando aquelas de uso mais comum. Esse equilíbrio entre a aplicação de regras e a memorização é essencial para formar escritores proficientes no uso da língua escrita.
Jogos e ludicidade na ortografia
Os jogos ajudam a estimular a motivação para a aprendizagem, consolidar conceitos, desenvolver estratégias de resolução de problemas, tomar decisões, vivenciar a interdisciplinaridade, participar ativamente, praticar a argumentação, entre outros benefícios.
A ludicidade que os jogos proporcionam contribui para criar um ambiente descontraído e envolvente, o que é fundamental para a aprendizagem de ortografia, especialmente nos anos iniciais, em que os alunos ainda estão se familiarizando com as regras da escrita.
Além de facilitar o processo de memorização de palavras e regras, os jogos favorecem o desenvolvimento da consciência fonológica, ortográfica e gramatical dos alunos, permitindo que eles associem os sons da fala aos grafemas corretos de maneira mais intuitiva.
Ao utilizar jogos didáticos em sala de aula, os professores conseguem aliar o prazer do brincar com a sistematização de conhecimentos importantes, o que pode reduzir a ansiedade e aumentar o interesse dos alunos pela escrita.
O livro traz exemplos práticos de jogos ortográficos, como “Completando a frase”, “Juntando os iguais”, “Corrida de palavras” e “Em busca de palavras”, que são especialmente úteis para professores dos anos iniciais da educação básica. Cada um desses jogos foi pensado para trabalhar diferentes aspectos da ortografia, seja a correlação entre fonemas e grafemas, seja a identificação de palavras irregulares.
Para finalizar, como afirma Célia Díaz Argüero em “Aprender y enseñar la lengua escrita en el aula”, “quanto mais oportunidades as crianças tiverem de escrever textos, maiores serão suas chances de, gradualmente, dominar a ortografia”. Isso reforça a importância de criar ambientes de prática frequente e significativa, em que a escrita se torna um instrumento cotidiano e dinâmico de expressão.
O uso de jogos didáticos, como propõem Artur Gomes de Morais e Tarciana Almeida, mostra-se uma estratégia benéfica para engajar os alunos de forma lúdica na reflexão e na compreensão das regras ortográficas.
Ao aliar a diversão com a aprendizagem, os jogos permitem que os estudantes se apropriem tanto das regularidades quanto das irregularidades do sistema ortográfico, desenvolvendo uma consciência linguística profunda.