Acredite no seu filho, acredite no seu aluno

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Cristiano Carvalho

Qual é o esporte mais radical que existe na vida? Ter um filho. E o segundo mais radical? Ser professor. Essas são as respostas que costumo dar quando me perguntam.

Quem é pai, mãe ou professor sabe que, por mais que tentemos nos preparar com leituras, conversas, terapias ou até orações, o incerto e o imprevisível são nossos companheiros constantes.

Mas existe algo que pode acalmar o coração e ser um indicativo de sucesso na vida de nossos filhos e alunos: a confiança.

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Faço um convite aos pais: tentem se lembrar da beleza no olhar dos seus filhos ao darem os primeiros passos.

Inevitavelmente, eles buscaram o olhar do adulto. Se esse olhar transmitiu segurança, aquela experiência — ainda que marcada por quedas eventuais — deu início a uma era de confiança nas potencialidades da criança.

Agora, imagine o que acontece quando, ao cair, a criança percebe desespero ou susto no adulto. O choro é quase certo, e o medo pode se instalar não apenas para aquela situação, mas para outras experiências “perigosas” no futuro.

Minha vivência de décadas em escolas me proporciona incontáveis exemplos contrastantes sobre a confiança dos pais nos filhos e o impacto disso em seu desenvolvimento acadêmico e socioemocional.

É comum atender famílias que, ao menor sinal de queda no desempenho acadêmico, já buscam um professor particular para a disciplina que o aluno estaria, supostamente, com dificuldade.

Também vejo casos em que os pais interferem diretamente em conflitos entre colegas que poderiam ser resolvidos entre as próprias crianças, com um mínimo de orientação adulta.

Por outro lado, há pais que dizem: “Orientei meu filho a procurar o professor para pedir ajuda na correção da prova” ou “Conversei com ele para que chamasse o colega que fez o comentário desagradável e expressasse como se sentiu”. Esse segundo grupo exemplifica pais que confiam nos filhos.

Confiar não é o mesmo que abandonar. Confiar significa estar presente, preparar a criança ou jovem com diálogo, exposição a desafios, tolerância ao erro, mentalidade de crescimento e afeto.

Na sala de aula, o mesmo contraste ocorre entre professores: uns mais controladores e outros que demonstram maior confiança nos alunos.

Em tempos de inteligência artificial, muitos educadores se preocupam em detectar plágios ou usos inadequados da tecnologia.

Felizmente, também há professores revisitando suas práticas, refletindo sobre o que ensinar e como avaliar.

Antes de focarmos na autenticidade de uma tarefa, precisamos perguntar: a avaliação é autenticamente relevante? Ela oferece feedback significativo para a aprendizagem?

Outro ambiente revelador para o educador é o conselho de classe. Ali, é possível observar se o parecer de um professor expressa confiança no potencial de superação do aluno ou se o rotula, limitando suas possibilidades.

O Efeito Pigmaleão (ou Efeito Rosenthal), um experimento realizado nos anos 1960, mostrou que as expectativas de um professor influenciam o desempenho dos alunos, tornando-se uma profecia autorrealizável.

Em outras palavras, se o professor confia no potencial de seu aluno, as chances de sucesso aumentam significativamente.

Ainda assim, confiar é uma arte complexa. Tanto pais quanto professores precisam criar condições seguras e apropriadas para que as crianças possam conquistar seus objetivos.

Assim como um pescador não se lança ao mar durante uma tempestade confiando apenas na sorte, é essencial garantir ambientes adequados e suporte para que as crianças explorem e celebrem suas conquistas genuínas.

Por fim, lembremos: conexão gera confiança, e confiança reforça a conexão. Essa relação cria um círculo virtuoso que estimula o desenvolvimento da autonomia.

Então, antes de embarcar no bungee jump da paternidade, maternidade ou docência, certifique-se de que seus instrumentos estão prontos, conecte-se com seus parceiros e confie.

A jornada será memorável, cheia de aprendizados e abrirá caminhos para múltiplas aprendizagens no presente e futuro!

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Cristiano Carvalho

CEO da Escola Americana de Vitória. Educador há mais de 30 anos, professor de Inglês com especialização em linguística aplicada. Coordenou projetos bilíngues e de educação internacional em escolas de educação básica, construindo e gerindo currículos e equipes docentes.