Arte e intuição: saiba como criar sem pressão ou expectativa

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Andreia Falqueto

Se pararmos para refletir sobre o que é o fazer artístico, muitas vezes somos levados a acreditar que o ato de criar exige um estado de êxtase ou desligamento do mundo, como se o artista precisasse alcançar um ápice criativo instantaneamente.

Essa visão, no entanto, é bastante romantizada e pode gerar uma expectativa irreal sobre o processo criativo.

O que é o fazer artístico

Na realidade, o fazer artístico pode ser compreendido de maneira mais acessível e tangível.

Embora seja verdade que a criação artística demanda um certo grau de concentração e dedicação, ela não necessariamente envolve estados elevados de consciência ou momentos de inspiração arrebatadora.

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Muito pelo contrário, o processo criativo é muitas vezes fruto de uma intenção clara e de uma prática contínua.

Papel da intuição na criação artística

Essa intenção, que orienta o trabalho artístico, está intimamente ligada à intuição do criador.

A intuição, por sua vez, é uma forma de conhecimento que se desenvolve através da experiência e da sensibilidade, permitindo ao artista fazer escolhas que muitas vezes escapam à razão lógica, mas que são essenciais para a autenticidade e profundidade da obra.

Intuição e prática: caminho de descoberta

Assim, ao invés de esperar por um momento mágico de inspiração, o artista pode confiar na sua capacidade de perceber, interpretar e transformar o mundo ao seu redor, utilizando tanto a atenção focada quanto a intuição para guiar sua prática.

Dessa forma, o fazer artístico torna-se um processo contínuo de descoberta e experimentação, onde a criatividade emerge não como um estado esporádico de êxtase, mas como um fluxo constante de intenção e intuição, nutrido pelo cotidiano e pelas experiências vividas.

Presença no processo criativo

Aquele que se propõe a criar algo deve, antes de tudo, estar plenamente presente no seu fazer.

A presença no processo criativo é fundamental, pois ela permite que o indivíduo se conecte profundamente com a tarefa em questão, mergulhando no momento presente e dedicando-se inteiramente à atividade de criação.

Estar presente significa estar consciente, atento e aberto às possibilidades que surgem ao longo do processo, permitindo que a intuição e a intenção se manifestem de forma autêntica.

Provocação e estímulo no ensino da arte

Além disso, é importante que o professor seja um provocador, alguém que desafie os alunos a olhar para além do óbvio, a questionar suas próprias percepções e a explorar novas perspectivas.

Essa provocação não deve ser entendida como uma imposição, mas sim como um convite ao aluno para ir além do que ele já conhece, encorajando-o a descobrir novas formas de pensar e de criar.

Cultivando a criatividade intuitiva

Essa metodologia, que combina leveza, ludicidade e provocação, é válida para alunos de todas as idades. Desde a educação infantil até o ensino superior, todos podem se beneficiar de um ambiente que promova a presença no fazer criativo.

A criatividade intuitiva não é um dom reservado a poucos, mas uma habilidade que pode ser cultivada e desenvolvida por todos, independentemente da idade ou da experiência prévia.

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Portanto, cabe ao educador criar as condições ideais para que cada aluno possa descobrir e explorar seu potencial criativo, desenvolvendo sua capacidade de estar presente no processo de criação e de se expressar de maneira autêntica e significativa.

Arte como expressão e suavidade da vida

Eventualmente o ensino artístico em sala de aula é a porta de entrada para a revelação de capacidades criativas do indivíduo – ainda que a pretensão deste não seja se “tornar artista”, essa expressão visual auxilia em deixar a vida mais suave. Fayga Ostrower, em Criatividade e Processos de Criação (1978, pp.73) nos diz que:

“Ocorrem momentos em nossa vida, momentos conscientes, pré-conscientes, inconscientes, de grande intensidade emocional. Eles podem induzir em nós novas forças, estimular todo nosso ser, trazer novas ideias, reorientar-nos na vida.” pp.73

Confiando na intuição para criar

Pois nossa intuição, muitas vezes em forma simbólica, de um sonho, de um símbolo, uma memória, pode ser canalizada em forma de um desenho, uma pintura, uma modelagem.

E essa expressão não necessariamente cobra do autor um significado ou ainda, uma importância posterior. Muitas vezes o que é necessário é apenas o fazer, não o buscar entender, ou ainda, buscar um porquê. Apenas faça. Siga sua intuição.

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Andreia Falqueto

Artista visual e professora, mestra e Doutora em Artes pela Universidade de Granada/Espanha. Bacharel em Artes Plásticas e Mestra em Artes pela UFES. Representada pelo instituto Iadê/São Paulo e galeria Sur/Espanha. Trabalha com pintura, desenho, objetos e instalações.