A economia é, de longe, a ciência mais assediada por falácias. Tal fato ocorre pela natural tendência do ser humano de priorizar o nicho em que ele vive em detrimento do todo, ou, então, o curto prazo em detrimento do longo prazo.
Aqui, podemos fazer um paralelo com o homem primitivo, que precisava que ele primeiro, e depois o seu bando, sobrevivessem; todos os dias, somente por mais aquele dia. Nessa ótica, fazer “o hoje” garantia a sua sobrevivência, pouco importava se reduzia a sua expectativa de vida no longo prazo. Mas evoluímos muito para continuar com esse pensamento instintivo e primitivo. A razão deve ser posta à frente não só em economia, mas em todos os assuntos pertinentes ao ser humano.
Muitas das ideias que agora se passam por brilhantes inovações e progressos, são, na realidade, antigos erros fantasiados em uma narrativa nova. É mais uma prova do ditado: aquele que ignora o passado está condenado a repeti-lo.
Henry Hazlitt, autor, jornalista, editor, economista e filósofo americano tem, em sua obra Economia em uma Única Lição, uma excelente exposição sobre o tema. De forma simples e direta, ele postula que a arte da economia está em considerar não só os efeitos imediatos de qualquer ato ou política, mas, também, os mais remotos. Está em descobrir as consequências dessa política, não somente para um único grupo, mas para todos eles.
E tudo gira em uma falácia central: considerar somente as consequências imediatas de um ato, ou proposta e apenas as suas consequências para um determinado grupo, esquecendo os demais. O bom economista é aquele que não cai nessa falácia, enquanto o mau economista é aquele que não consegue analisar de tal forma. Contudo, Hazlitt não definiu uma terceira figura, a qual tem sido cada vez mais comum nas economias de diversos países: o economista mau. Trata-se daquele que conhece as consequências, mas a ignora.
São inúmeros os exemplos de soluções falaciosas, há muito tempo já refutadas pela realidade, que são dadas por economistas maus para resolver questões imediatas: obras públicas para gerar emprego e desenvolvimento; incentivos para encorajar determinado setor; tarifas para proteger o mercado interno; crédito público para estimular um determinado segmento; manutenção artificial de determinadas funções de trabalho; paridade ou tabelamento de preços; salário mínimo e sindicatos; etc.
Tenha cuidado ao ouvir e flertar com tais tipos de soluções, elas normalmente são dadas por quem não tem zelo nenhum pelo seu dinheiro. Quanto a isso, a colocação de Milton Friedman sobre o tema é certeira. Segundo ele, existem apenas quatro maneiras de você poder gastar dinheiro: você pode gastá-lo consigo mesmo. Quando faz isso, e pode realmente ver o que está fazendo com ele, tenta usá-lo da melhor forma possível. Você pode gastar com outra pessoa. Por exemplo, eu compro um presente de aniversário para alguém. A eficácia satisfatória do presente é secundária, pois estou atento ao custo. Você pode gastar o dinheiro alheio consigo mesmo. E se gasto o dinheiro alheio comigo mesmo, então tenho certeza de que terei um bom almoço! Finalmente, você pode gastar o dinheiro de alguém com outro alguém. Nesse caso, não me importo com o custo e nem com o que conseguirei satisfazer. E isso é o governo; isso é o que economistas maus fazem.
Por fim, as visões de Hazlitt, Friedman e diversos outros bons economistas reforçam que, apesar de não ser o mais fácil, priorizar o todo em detrimento de uma parte ou o longo prazo em detrimento do curto prazo é o que deve ser feito. Além disso, o foco deve estar em controle de gastos e rigor econômico: medidas austeras que geram resultado.