Mesmo aqueles que se convenceram da ineficiência estatal costumam esbarrar em um obstáculo: ainda que seja ineficiente, qual seria a alternativa para a promoção da segurança, da garantia do direito à propriedade e das liberdades individuais, e do combate às atividades criminosas em uma sociedade sem Estado?
Esse obstáculo, se intransponível, acaba gerando uma contradição e um prato cheio para os críticos dos ideais liberais. Ora, se não devemos confiar ao Estado a educação e a saúde, por ele ser economicamente ineficiente e por promover uma moralmente condenável redistribuição compulsória daquilo que o indivíduo produz, por que então deveríamos lhe confiar a gestão de nossa segurança?
Pensadores, como Murray Rothbard e David Friedman argumentam que a segurança e a ordem poderiam ser eficientemente geridas pelo mercado. Rothbard, em “For a New Liberty” (1973), defende que “A proteção da vida e da propriedade pode ser servida pelo livre mercado muito mais eficientemente e moralmente do que pelo Estado“. Tais agências devem se preocupar com eficiência, inovação e adaptabilidade se quiserem se manter no mercado, algo totalmente ausente em um cenário marcado pelo monopólio estatal coercitivo.
Provavelmente os casos de abuso de autoridade e uso de força desmedida também seriam reduzidos, já que tais casos representariam manchas reputacionais para as organizações de segurança privada. Estas teriam de aplicar práticas efetivas de treinamento e prevenção, além de responder célere e exemplarmente em casos de abuso. Postura contrastante com o corporativismo presente nas forças policiais estatais.
Rothbard visualiza um cenário no qual múltiplas agências de segurança competem por clientes, proporcionando um serviço mais responsivo e eficiente. Em resposta aos questionamentos iniciais, ele afirma: “Em uma sociedade libertária, então, quem irá proteger o homem da violência, crimes e agressão? A resposta é que nesta sociedade haverá agências livres e competitivas de detetives e guardas, prestando os serviços de proteção às pessoas e à propriedade“.
Tais agências, ao contrário do Estado, seriam diretamente responsáveis perante seus clientes e submetidas à disciplina do mercado, garantindo um serviço de maior qualidade.
Por exemplo, na Islândia medieval, antes do estabelecimento de um governo central, a lei e a ordem eram mantidas por um sistema de tribunais privados e uma rede de acordos familiares. Este sistema descentralizado e privado era baseado em leis comuns e em compensações monetárias para resolver disputas.
No contexto contemporâneo, empresas de segurança privada oferecem um leque de serviços que vão desde a proteção patrimonial até a segurança pessoal. Em muitas regiões, essas empresas operam em paralelo às forças policiais, atendendo necessidades específicas de segurança que o setor público não consegue atender de maneira eficiente.
Não obstante, existem críticas quanto à viabilidade de um sistema de segurança totalmente privatizado, especialmente quanto a riscos como a formação de monopólios coercitivos ou a negligência de comunidades menos abastadas. Contudo, ao menos no cenário brasileiro, traficantes e milicianos materializam os supostos riscos que organizações privadas poderiam trazer, mesmo com o Estado detendo o monopólio da atividade policial.
Os desafios para uma gestão da segurança sem o Estado são significativos, assim como são os desafios para uma gestão estatal da segurança. Rothbard acredita que os incentivos presentes no livre mercado seriam suficientes para prevenir os riscos apontados, evitando a concentração e o monopólio da força (como hoje ocorre com as forças policiais estatais) por meio da oferta de serviço de segurança por diversas organizações, o que, do mesmo modo, seria capaz de aumentar a qualidade do serviço prestado, exatamente por meio da competição entre agências privadas de segurança.