O início da invasão à Ucrânia levou a Rússia a intensificar o uso de propaganda estatal para moldar a percepção pública, especialmente em busca por justificar suas ações militares. A Rússia construiu um espaço informativo agressivamente restritivo, preenchendo-o com desinformação e censurando vozes independentes. Essa propaganda não apenas distorce a realidade, mas também mina a capacidade dos indivíduos de distinguir fatos de ficções, criando um ambiente de manipulação e controle.
A propaganda estatal russa se manifesta desde a manipulação direta de notícias e informações, até a criação de narrativas falsas que demonizam a Ucrânia e glorificam as ações russas. Os principais canais de mídia controlados pelo Estado, como a RT e a Sputnik, disseminam desinformação tanto dentro, quanto fora da Rússia. Esse controle da narrativa é uma tentativa do governo russo de manter uma imagem de legitimidade e justificar suas ações tanto para a população russa quanto para a comunidade internacional.
A censura é a outra face da moeda da propaganda estatal. Para garantir que a narrativa oficial não seja contestada, o governo russo implementou uma série de leis e regulamentos destinados a suprimir a liberdade de expressão e silenciar vozes dissidentes. Uma lei de 2022 exige que plataformas de mídia social com mais de 500.000 usuários diários na Rússia registrem-se como “entidades legais locais”, é um exemplo claro dessa repressão. Essa legislação facilita o controle do governo sobre essas plataformas e permite a remoção rápida de conteúdo que não esteja alinhado com a narrativa oficial.
A repressão à mídia independente também é intensa. Jornalistas e organizações de mídia que tentam relatar os eventos de maneira factual enfrentam ameaças, assédio e até mesmo prisão. Greg Miller e Joseph Menn, em um artigo para o Washington Post, descrevem como a repressão às empresas de tecnologia ocidentais na Rússia preparou o terreno para uma censura ainda mais severa durante a guerra. Essa repressão não só silencia críticas internas, mas também dificulta o acesso da população russa a informações precisas e imparciais.
A censura e a propaganda são ferramentas que governos autoritários utilizam para controlar a população e manter o poder, restringindo a autonomia individual e a livre troca de ideias. A capacidade de expressar opiniões, acessar informações diversas e contestar a narrativa oficial é essencial para que os indivíduos sejam realmente livres. A censura e a propaganda não apenas limitam a liberdade de expressão, mas também criam um ambiente de medo e conformidade forçada, onde a dissidência é punida severamente.
As empresas de tecnologia encontram-se em uma posição delicada, equilibrando a necessidade de cumprir as leis locais com a responsabilidade de proteger os direitos humanos. Muitas dessas empresas adotaram políticas de direitos humanos que as comprometem a respeitar os princípios de liberdade de expressão e privacidade. No entanto, a pressão do governo russo e as ações de censura colocam tais compromissos em xeque.
Facebook, Apple e Google, por exemplo, têm políticas que se alinham com os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos, os quais exigem a condução de procedimentos de due diligence e ações para a mitigação de riscos relacionados a direitos humanos. No entanto, a pressão para remover conteúdo, a intimidação de funcionários e as ameaças judiciais por parte do governo russo impedem que essas empresas mantenham seus compromissos com os direitos humanos sem comprometer suas operações no país.
A guerra russa contra a realidade, conduzida através de propaganda estatal e censura, é um ataque direto aos ideais de liberdade de expressão, à privacidade e à capacidade de autodeterminação do indivíduo. A luta pela liberdade é contínua e requer vigilância constante, sob pena de perda da autonomia individual e da liberdade que o indivíduo possui de se expressar e ter ideias contrárias àquelas defendidas por determinado governo.