George Orwell, autor da obra e ícone atemporal do antitotalitarismo. Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em 1903 em Motihari, na colônia britânica de Bengala, situada na Índia. Ele é considerado por muitos o escritor político mais influente do século XX. Sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e bem-humorada, uma consciência profunda das injustiças sociais, uma intensa oposição ao totalitarismo e uma paixão pela clareza da escrita. Em 2008, o The Times classificou-o em segundo lugar em uma lista de “Os 50 maiores escritores britânicos desde 1945”. A Revolução dos Bichos é, até hoje, sua obra mais popular.
A história é contada por meio de um grupo de animais que, após um sonho do porco Major, figura que faz alusão a Karl Marx, se rebelam contra seu então dono, o fazendeiro Jones (Pete Postlephwaite). O velho Major morre logo no início do enredo, mas seus objetivos continuam sendo seguidos. Napoleão e Bola de Neve assumem a liderança do grupo após a morte do Major. Napoleão, em uma clara representação de Stalin, é adepto do totalitarismo e não permite nenhuma oposição a sua autoridade, fazendo o uso irrestrito de força, opressão e propaganda, representado pelo porco Garganta. Já Bola de Neve pode ser interpretado como uma analogia a Trótski, apontado como Stalin como o grande inimigo da revolução e fugindo da fazenda animal. Bola de Neve tenta preservar os ideais do velho Major e, por diversos momentos, age dessa forma, registrando os mandamentos na parede do celeiro da fazenda e confrontando a forma de condução de Napoleão. Sansão e Quitéria, os cavalos, representam a classe trabalhadora sem acesso direto às informações, sendo ludibriados pela propaganda do regime de política centralizado e ditatorial, propagado por Garganta. Ainda existe a figura das ovelhas que representam a massa manobrável da população que, sem massa crítica, apenas repetem o discurso preparado pela propaganda.
Em uma derrocada de atitudes totalitárias, os porcos tomam os filhotes da cadela Jessie, com a finalidade de montar a sua guarda pessoal. Além de alterarem os mandamentos e criarem para cada alteração uma narrativa disseminada via propaganda para convencimento do grupo. O confisco da propriedade dos ovos das galinhas é uma das cenas que mais geram desconforto, tendo em vista que elas, ao se rebelarem contra a atitude, são postas como traidoras e executadas a mando de Napoleão.
Os animais fazem comércio com os humanos, um dos mandamentos terminantemente proibidos e postulam o seu último mandamento: “todos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.
No final, Jessie observa os porcos jantando com humanos e não consegue os diferenciar. No contexto da época (1945), final da segunda guerra mundial e início da guerra fria, o a analogia se reflete em uma forte crítica aos soviéticos.
A fábula pode ser interpretada como a persistência de um sistema sobre qualquer grupo que se articula, pois, quando um é derrubado, logo se institui outro. Quando os mais fracos tomam o poder, logo em seguida são corrompidos por ele, com a autoridade de instituir medidas intervencionistas sobre os seus dominados. Orwell tentou chamar atenção para suas interpretações para a sociedade e seus processos. Surpreendentemente um militante socialista de convicções democráticas, em sua própria definição, o autor nos deixou uma referência indispensável para aqueles que desejam reflexões mais aprofundadas sobre o assunto.
O livro é um clássico, no qual a linguagem utilizada é simples e aponta fidelidade na fala das personagens. A ideia de utilizar os bichos como atuantes da cena política faz a fábula ser algo tão didático que até uma criança entenderia. Importante notar o aspecto atemporal do clássico, que gera ainda gera profundas reflexões em pleno século XXI.