A visão de um futuro no qual tecnologias preditivas determinam nossas ações antes mesmo de as realizarmos, popularizada pelo filme “Minority Report”, está se tornando realidade. O que parecia pura ficção científica agora se infiltra em diversos aspectos da vida humana. Essa evolução suscita preocupações profundas sobre temas como a autonomia individual, o livre-arbítrio e o poder de vigilância excessivo concedido ao Estado.

No filme “Minority Report”, baseado em uma obra de Philip K. Dick, uma unidade policial especial usa tecnologias preditivas para prender criminosos antes mesmo que crime pelo qual são detidos seja cometido. Esta premissa levanta questões éticas significativas sobre a aplicação de filosofias deterministas em nossa sociedade, sobre responsabilidade individual e sobre o papel do Estado na vigilância dos cidadãos. Hoje, diversas tecnologias comportamentais preditivas já são utilizadas, aproximando-nos perigosamente do cenário distópico teorizado por Philip K. Dick.

Uma das tecnologias mais proeminentes nesse campo é o uso de algoritmos de aprendizado de máquina e inteligência artificial para prever comportamentos criminosos. Em cidades como Chicago e Los Angeles, a polícia utiliza sistemas preditivos para identificar “áreas quentes”, nas quais crimes são mais prováveis de ocorrer, e indivíduos que possam apresentar um maior risco de envolvimento criminal.

Um exemplo de tecnologia comportamental preditiva é o software PredPol, utilizado por diversas autoridades policiais nos Estados Unidos. Este software analisa dados históricos de crimes para prever onde crimes futuros podem ocorrer. A tecnologia promete permitir a distribuição de recursos policiais de maneira mais eficiente.

A liberdade individual deve estar no centro do debate sobre a utilização de tecnologias comportamentais preditivas para fins de vigilância estatal. Indivíduos devem ter o controle total sobre suas vidas e propriedade, livres de intervenções externas.

A aplicação de tecnologias comportamentais preditivas, especialmente quando usadas pelo Estado, representa uma forma insidiosa de coerção. Ao prever e potencialmente punir comportamentos futuros, o Estado está essencialmente negando a capacidade dos indivíduos de tomar decisões autônomas. Este tipo de intervenção prévia é uma violação direta à liberdade do indivíduo e ao preceito da responsabilidade individual.

Além disso, a coleta massiva de dados necessária para essas previsões preditivas é uma afronta à privacidade, essencial à liberdade. A capacidade de prever comportamentos com base em grandes conjuntos de dados significa que os indivíduos estão sendo constantemente monitorados e analisados, muitas vezes sem seu conhecimento ou consentimento, o que cria uma sociedade de vigilância incompatível com os ideais de liberdade e capacidade de autodeterminação individual.

Os indivíduos devem ter o direito de controlar suas próprias informações e decidir como elas são usadas. Além disso, é importante conscientizar sobre os riscos que tecnologias comportamentais preditivas oferecem, para que o indivíduo não seja seduzido pelo “canto da sereia” utilizado sempre que o Estado pretende restringir ainda mais a liberdade de seus cidadãos: “estamos fazendo isso para proteger a vida, por mais segurança, apenas contra criminosos etc.”.

A liberdade não costuma ser tomada pelo Estado, mas entregue por indivíduos e sociedades que se deixaram seduzir por discursos beligerantes que incitam o medo e/ou o ódio contra um “inimigo comum”, e conclamam a cessão da liberdade em troca do combate contra tal inimigo.

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