A recente declaração[1] do economista Daron Acemoglu, vencedor do prêmio Nobel de economia, professor do MIT e coautor do livro “Por que as Nações Fracassam”, trouxe à tona uma preocupação crescente sobre o futuro dos BRICs e seu alinhamento político e econômico. Segundo Acemoglu, os países integrantes do bloco estão se tornando “meros clientes dos chineses e dos russos”, um caminho que, segundo ele, vai na contramão dos ideais democráticos.

A formação dos BRICs, composta por Brasil, Rússia, Índia, China e, mais recentemente, a inclusão de outros países emergentes, foi inicialmente vista como uma oportunidade para equilibrar o poder global, dando voz e força a nações que, juntas, poderiam influenciar significativamente a economia e a política mundial. No entanto, a direção que o bloco parece estar tomando levanta questionamentos sobre sua verdadeira independência e comprometimento com a liberdade.

A China, em particular, tem sido objeto de críticas não apenas por sua política interna de repressão a movimentos democráticos, mas também por sua influência externa. Acemoglu destaca que o governo chinês não limita suas práticas autoritárias às suas fronteiras. A exportação de tecnologias de vigilância, censura e monitoramento para pelo menos 60 países, muitos dos quais não são democráticos, é um sinal alarmante. Essas ferramentas não apenas fortalecem regimes autoritários, mas também minam a sociedade civil e organizações que lutam por direitos e liberdades fundamentais.

A comparação feita por Acemoglu entre a repressão na China e os regimes fascistas do passado não é mera hipérbole. A utilização de tecnologia para controle social em massa, como sistemas de reconhecimento facial e pontuação social, lembra os mecanismos de controle totalitário que a humanidade já testemunhou e sofreu as consequências. A diferença agora é a escala e a sofisticação proporcionadas pelo avanço tecnológico.

Além disso, a influência chinesa não se limita ao campo político. A dependência econômica que muitos países desenvolvem em relação à China pode levar a concessões indesejadas em termos de soberania e autonomia. Quando nações se tornam “clientes” de potências autoritárias, correm o risco de adotar práticas que vão contra os interesses de seus cidadãos.

Em um mundo cada vez mais interconectado, as ações de um país têm repercussões globais. A exportação de tecnologias de vigilância e controle não afeta apenas os países que as adotam, mas também estabelece precedentes perigosos sobre o que é aceitável quanto a ações de vigilância estatal. Se a tendência atual continuar, poderemos testemunhar um retrocesso nos avanços democráticos conquistados nas últimas décadas.

É fundamental que os membros dos BRICs, especialmente aqueles com tradições democráticas mais sólidas, como o Brasil e a Índia, levantem essas questões dentro do bloco. O diálogo interno é necessário para redefinir os rumos e garantir que a associação não se torne um veículo para a propagação de práticas autoritárias.

[1] https://www.gazetadopovo.com.br/economia/nobel-de-economia-passou-de-grande-apoiador-de-lula-a-extremamente-desapontado/

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