O socialismo não funciona! Talvez este seja o principal argumento para criticar as ideias de Karl Marx. Basta buscar as evidências ao longo da história para, factualmente, comprovar que todos os lugares em que o socialismo foi instituído, a promessa de prosperidade entregou apenas fome, pobreza e violência. Se a própria realidade mostra que o socialismo não funciona, qualquer outra consideração abstrata sobre a ideologia marxista é inútil, certo? Não é bem assim.
Refutar o socialismo pela estrita prerrogativa de seu não funcionamento – ainda que de fato não funcione – é apenas revisitar uma crítica desgastada, para a qual seus partidários prontamente apresentam uma resposta. Partindo do próprio termo “funcionar”, o que seria um sistema econômico funcional? Aquele em que não existisse pobreza? Mas quem define o que é pobreza? Quem define o que é riqueza? A subjetividade no tratamento desses termos é um prato cheio na defesa das ideias de Marx.
Além disso, se o leitor contesta o socialismo pelo fato de esse não satisfazer os objetivos a que se propõe – igualdade e prosperidade a todos -, qual seria sua crítica acaso ele satisfizesse? Possivelmente, o leitor lançaria mão, mais uma vez, dos dados históricos: o socialismo – para além de não entregar prosperidade – levou ao cerceamento da liberdade individual, à tortura e à criação de campos de extermínio.
A realidade das atrocidades históricas, no entanto, não constrange o apologista de Marx, que assegura que tais cenários não refletiram o verdadeiro socialismo (e comunismo). Sob a alegação de que um ou outro autocrata distorceu a ideologia, o sofisma de que Venezuela ou até China maoísta não seriam bons exemplos de socialismo funciona como justificativa para que se continue apoiando a implantação das proposições marxistas.
A defesa dessa ideologia frente à obviedade de resultados catastróficos advindos de sua implementação tem base em um raciocínio fraudulento, mas cheio de adeptos. Sempre que um resultado ruim é utilizado como base para rejeitar toda a teoria socialista, seu defensor invoca a falácia da evidência anedótica e acusa o crítico de Marx de basear seus argumentos em exemplos isolados ou sem relevância.
Assim, é por esse tipo de artifício que não se deve apontar as críticas somente para os resultados práticos do socialismo, mas para as premissas intrínsecas à própria ideologia: coletivismo; ausência de mercado; e Estado totalitário. Qualquer escrutínio legítimo faz o socialismo desmoronar sob o peso de sua própria arrogância intelectual. O socialista precisará defender que indivíduos devem ser sacrificados pelo bem coletivo. O socialista precisará defender uma economia planificada que, pela ausência de mercado formulador de preços, contará com a invenção deles pelo governo. O socialista precisará defender que está disposto a renunciar às suas vontades e planos em obediência às decisões de quem tiver a caneta na mão. O socialista precisará defender o Estado totalitário que microgerencia a ação de cada indivíduo por meio do monitoramento, da perseguição e da aplicação de sanções a todo aquele que expressar discordância.
Afrontar os meios pelos quais os resultados (fracassados) do socialismo seriam alcançados expõe a ideologia a todas as suas incoerências, e subordina seu sectário à dignificação do que há de mais putrefato na sociedade: a usurpação da condição intrínseca do indivíduo de, livremente, buscar a própria felicidade. Discutir os resultados do socialismo pode não dissuadir o idealista, mas expô-lo à defesa dos meios sórdidos de Marx, ao menos, poderia constranger sua consciência.