Em março de 2023, a Operação Lava Jato completou uma década desde sua primeira fase, marcando um período turbulento na história política e jurídica do Brasil. Iniciada em 17 de março de 2013, esta operação desvendou o maior esquema de corrupção e desvio de recursos públicos já visto no país e levou a população brasileira a acompanhar, atônita, uma série de buscas, apreensões e prisões que pareciam infindáveis.
A operação, liderada pelo então procurador da República Deltan Dallagnol e autorizada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, trouxe à tona a extensão do esquema de corrupção envolvendo a estatal Petrobras. Com resultados impressionantes, a operação devolveu R$4,3 bilhões à Petrobras e resultou em 163 prisões temporárias e 553 denunciados.
Entretanto, o percurso da Lava Jato não foi livre de controvérsias. Acusações de atuação parcial e motivação política mancharam a reputação da operação, especialmente após episódios envolvendo figuras políticas proeminentes, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A atuação de Moro e Dallagnol foi criticada, culminando em derrotas no Supremo Tribunal Federal (STF) e na eventual saída de ambos para a carreira política.
Duas figuras emblemáticas mostram qual foi o desfecho da operação: Cristiano Zanin e Deltan Dallagnol. Zanin, advogado de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, emergiu das turbulências da Lava Jato com seu prestígio em alta, culminando na sua nomeação como Ministro do Supremo Tribunal Federal. Esse desfecho não só reforçou a percepção de sua competência e dedicação jurídica, mas também simboliza uma espécie de reabilitação pública de Lula, cujas condenações foram anuladas pelo mesmo Supremo Tribunal Federal.
Por outro lado, Deltan Dallagnol, cuja figura se tornou sinônimo dos esforços anticorrupção da Lava Jato enquanto chefiava a força-tarefa em Curitiba, encontrou um destino político mais desafiador. Após deixar o Ministério Público Federal para entrar na política, Delagnol foi eleito deputado federal pelo Paraná com uma expressiva votação de mais de 340 mil votos. No entanto, seu mandato foi posteriormente cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um desfecho que reflete as controvérsias sobre os limites da atuação judicial e o papel dos agentes públicos no combate à corrupção.
A Operação Lava Jato, apesar de seus resultados no combate à corrupção, levanta questões cruciais sobre a fragilidade do Estado de Direito e a necessidade de uma justiça imparcial e forte. Seu legado é duplo: por um lado, uma demonstração sem precedentes de que é possível enfrentar a corrupção em escalas astronômicas; por outro, um lembrete sombrio das vulnerabilidades do sistema jurídico brasileiro e dos perigos da politização da justiça.
A desmontagem da operação ao longo dos anos é lamentada por muitos que a viam como um farol de esperança contra a impunidade, mas também serve como um ponto de reflexão sobre como garantir que o combate à corrupção possa ser conduzido dentro dos limites do direito e de forma justa para todos os envolvidos.