No palco global das ideias econômicas e políticas, poucas vozes ressoam tão provocadoras como as de Ayn Rand. Surpreendentemente, considerando o histórico dos últimos discursos realizados no Fórum Econômico Mundial, o discurso do recém-eleito, presidente argentino Javier Milei, uma vez mais iluminou as ideias personificadas pela filósofa russo-americana nas figuras de Francisco d’Anconia e John Galt, personagens de uma de suas obras-primas: “A Revolta de Atlas”.
Para aqueles não familiarizados, Milei, um economista e atual presidente argentino, e Rand, uma romancista e filósofa, compartilham a defesa apaixonada pelo individualismo e críticas severas ao controle estatal. É curioso notar como as palavras presentes no discurso de Milei em janeiro de 2024 no Fórum Econômico Mundial se entrelaçam com as ideias de liberdade econômica e individual que integram os emblemáticos discursos de Francisco d’Anconia e John Galt na obra “A Revolta de Atlas”.
Francisco d’Anconia desafia a noção de que a produção econômica, a riqueza e o dinheiro são a raiz de todo mal. Francisco afirma que o dinheiro não é capaz de comprar caráter, virtude, admiração ou inteligência para o indivíduo que não os possua, defendendo que esta característica do dinheiro seria o que faria alguns indivíduos o apontarem como “mau”, já que ao obterem de formas indevidas não veriam utilidade na moeda, por esta não ser capaz de comprar a coragem, o respeito ou a inteligência que lhes falta:
“O seu dinheiro provém da fraude? Da exploração dos vícios e da estupidez humanos? O senhor o obteve servindo aos insensatos, na esperança de que lhe dessem mais do que sua capacidade merece? (…) Nesse caso, o seu dinheiro não lhe dará um momento sequer de felicidade. Todas as coisas que adquirir serão não um tributo ao senhor, mas uma acusação; não uma realização, mas um momento de vergonha. Então o senhor dirá que o dinheiro é mau. Mau porque ele não substitui seu amor-próprio? Mau porque ele não permite que o senhor aproveite e goze sua depravação? É esse o motivo de seu ódio ao dinheiro? Ele será sempre um efeito e nada jamais o substituirá na posição de causa. O dinheiro é produto da virtude, mas não dá virtude nem redime vícios. Ele não lhe dá o que o senhor não merece, nem em termos materiais nem espirituais.”.
De forma similar, John Galt, em seu mencionado discurso, discorre sobre a importância da mente humana como fonte de toda a riqueza e progresso. Ele defende que a razão é o meio fundamental para a sobrevivência e o sucesso humanos, e que cada indivíduo deve viver pela sua própria mente, não se sacrificando pelos outros, nem pedindo que os outros se sacrifiquem por ele, como práticas intervencionistas exigem.
Milei, em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, reflete essas ideias ao criticar o controle estatal e ao defender a liberdade de mercado e as liberdades individuais. Sua visão ecoa as ideias presentes no discurso de Francisco sobre o dinheiro, destacando a importância da troca voluntária e da valorização daqueles que produzem riqueza. Do mesmo modo, a ênfase de Milei na autonomia individual e na rejeição de práticas intervencionistas espelha os apelos presentes no discurso de John Galt redigido por Rand.
A análise do discurso do presidente argentino e daqueles fictícios realizados pelos personagens da obra “A Revolta de Atlas” revelam como as noções de liberdade econômica, mérito individual e rejeição ao coletivismo permanecem relevantes e influentes ao ressoarem no maior palco de ideias econômicas e políticas do mundo. Tais ideias advogam por um sistema no qual políticas que favoreçam o livre mercado e minimizem a intervenção estatal prevaleçam, permitindo que o talento individual, o exercício da razão e a produtividade floresçam.