Nos últimos meses, o Brasil tem sido palco de um intenso debate sobre a liberação e o crescimento das plataformas de apostas online. Manchetes alarmistas não cessam, retratando vidas arruinadas pela compulsão do jogo e famílias destroçadas por dívidas impagáveis. Como era previsível, não tardou para que as vozes do paternalismo estatal se erguessem, clamando por mais regulações, restrições e até mesmo pela proibição total dessas plataformas. É o velho fantasma brasileiro de querer proteger todos de tudo, até de si mesmos.
Não se trata aqui de negar os potenciais efeitos negativos das apostas; eles existem e são reais. No entanto, é preciso ir além da superfície e questionar: o verdadeiro problema está nas plataformas de apostas ou na falta de preparo do brasileiro para lidar com elas? Afinal, eram proibidas até recentemente. Será que a solução para esse desafio passa realmente por mais intervenção governamental ou por um processo de aprendizado individual e coletivo?
A realidade é que o Brasil, como nação, ainda engatinha quando o assunto é educação financeira e responsabilidade individual. Não surpreende que muitos se vejam seduzidos pela promessa de ganhos fáceis e rápidos oferecidos pelas apostas online. Em um país onde grande parte da população vive dependente de salários exíguos, a ideia de multiplicar o dinheiro com alguns cliques pode parecer irresistível. No entanto, essa sedução revela mais sobre nossas deficiências em lidar com dinheiro do que sobre a natureza supostamente “maligna” das plataformas de apostas.
Dessa forma, o caminho para uma sociedade verdadeiramente próspera não está na proibição ou na restrição excessiva, mas na promoção da responsabilidade individual e no fortalecimento da capacidade de cada cidadão de fazer escolhas informadas. Isso inclui, sim, a possibilidade de errar e “tomar porrada”, como diz o ditado popular. É através dessas experiências, às vezes dolorosas, que crescemos e aprendemos.
Além disso, história nos mostra repetidamente que a proibição raramente é a resposta eficaz. Ela apenas empurra as atividades para a clandestinidade, criando mercados negros ainda mais perigosos e difíceis de controlar. Além disso, o excesso de protecionismo estatal tem o efeito perverso de infantilizar a sociedade, criando uma população dependente, incapaz de assumir responsabilidade pelas próprias escolhas.
Em vez de ceder ao impulso de proibir, deveríamos encarar o crescimento das plataformas de apostas como uma oportunidade para promover uma discussão séria sobre educação financeira no Brasil. É o momento de implementar programas abrangentes de conscientização sobre os riscos e responsabilidades associados não apenas às apostas, mas a todas as formas de investimento e gestão financeira.
O desafio que as plataformas de apostas apresentam ao Brasil é, na verdade, um teste de nossa maturidade como sociedade. É uma oportunidade de abandonar o confortável, mas limitante, manto do paternalismo estatal e abraçar uma visão mais madura e responsável de cidadania. Trata-se de reconhecer que a liberdade de escolha vem acompanhada da responsabilidade pelas consequências dessas escolhas.
Em resumo, a questão não é se devemos ou não permitir as plataformas de apostas, mas como podemos criar um ambiente onde os brasileiros estejam equipados para lidar com elas – e com qualquer outro desafio financeiro que possam enfrentar. Afinal, todos os dias pessoas perdem dinheiro com day trade e outros investimentos; iremos proibir o mercado de capitais também?
Ser maduro e responsável é um caminho mais difícil e, por vezes, doloroso, mas é o único que nos levará a uma verdadeira emancipação econômica e social. Podemos escolher o caminho fácil da proibição e da tutela estatal, perpetuando nosso estado de imaturidade. Ou podemos optar pela via mais desafiadora, mas infinitamente mais recompensadora, da educação, da responsabilidade individual e da liberdade econômica.
A escolha é nossa, e dela depende não apenas o futuro das apostas online no país, mas o próprio amadurecimento da nossa sociedade. É hora de o brasileiro enfrentar de frente os problemas, assumindo a responsabilidade e acreditando na sua capacidade de se adaptar e resolver os seus problemas.