Aranha-saltadora observando atentamente o fotógrafo, revelando sua natureza curiosa e atenta. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Quando penso em minhas aventuras como fotógrafo de natureza, lembro-me de momentos únicos que marcaram não só minha carreira, mas também minha visão sobre a vida e o universo.
Um desses momentos aconteceu há algum tempo, em uma estrada isolada, durante um dos meus projetos fotográficos em Itaúnas, no Espírito Santo.
Em uma época em que guerras por todos os lados voltam a assustar o mundo, tornando-se novamente um perigo que pode desencadear o fim da sociedade humana como conhecemos, a história que conto nessa matéria me veio à mente novamente.
Uma Reflexão à Beira da Estrada
Estava voltando para casa, cansado, mas feliz com as imagens que havia registrado para o livro sobre o Parque Estadual de Itaúnas.
De repente, meu carro parou por problemas mecânicos. Ali, no meio do nada, fui obrigado a esperar o guincho.
Sentado à beira da estrada, sobre o cantil de água, comecei a observar a paisagem ao meu redor. À primeira vista, tudo parecia sem vida. Não era uma grande floresta, mas sim uma vegetação muito impactada pelo chamado “progresso”.
No entanto, após alguns minutos, percebi que a vida começava a se revelar. Pequenos pássaros e insetos, que provavelmente se esconderam com a minha chegada, começaram a sair de seus esconderijos.
Era como se o ambiente estivesse lentamente retomando sua normalidade. Então, percebi algo curioso: uma pequena moita próxima a mim.
O Encontro com as Aranhas-Saltadoras
Durante mais de uma hora, observei aquela moita, algo que raramente faço sem a câmera em mãos. Foi aí que, em uma das folhas, vi uma pequena aranha-saltadora.
Seus grandes olhos fixos me observavam com curiosidade. Pouco depois, uma outra aranha, da mesma espécie, se aproximou.
As duas se encararam por um momento e, de repente, começaram a disputar o espaço naquela folha minúscula.
A moita parecia imensa em comparação com as duas, mas mesmo assim, elas lutavam ferozmente pelo pequeno pedaço de território.
Uma delas finalmente cedeu e fugiu com um salto para longe. Uma distância impressionante comparado ao seu tamanho.
Observando essa cena, me peguei rindo sozinho. Aquela batalha por um espaço tão pequeno, naquela vegetação de beira de estrada, me fez refletir:
“Com uma floresta gigante dessas ao seu dispor, por que essas aranhinhas lutam por uma moita minúscula?”
Um Espelho para a Humanidade
E então, um pensamento me atingiu: “Não somos tão diferentes dessas aranhas.”
Em um universo cheio de possibilidades infinitas, nós, seres humanos, frequentemente lutamos e desperdiçamos nossos já escassos recursos por um minúsculo pedaço de território, por poder, por algo que, no grande esquema das coisas, é insignificante.
Enquanto esperava o guincho, minha mente viajou longe. Pensei em como a humanidade, muitas vezes, age de maneira inconsequente.
Gastamos tanto tempo e energia em conflitos e disputas que pouco importam, enquanto poderíamos estar investindo no bem comum, protegendo o nosso planeta, explorando o universo com recursos infinitos e descobrindo novas formas de viver em harmonia.
Uma Nova Perspectiva
Esse encontro inesperado com as aranhas-saltadoras colocou em perspectiva a nossa existência como espécie.
Somos todos parte de um mesmo universo, interconectados de maneiras que muitas vezes não compreendemos.
Aquelas pequenas aranhas, com sua disputa, me ensinaram mais sobre a vida do que muitos livros que já li.
Um Pouquinho Sobre as Aranhas-saltadoras
As aranhas-saltadoras, ou aranhas papa-moscas, são fascinantes. Com mais de 5.000 espécies distribuídas ao redor do mundo, elas possuem uma visão incrível, sendo capazes de ver em cores, algo raro entre os artrópodes.
Além disso, são ágeis e possuem um veneno potente para suas presas, mas inofensivo para humanos. Elas nos ajudam a controlar populações de insetos e outras aranhas, desempenhando um papel crucial nos ecossistemas.
O Que aprendi?
Ao final daquele dia, quando o guincho finalmente chegou, percebi o quanto havia aprendido apenas observando.
As pequenas aranhas-saltadoras me mostraram que, muitas vezes, a verdadeira riqueza está nas pequenas coisas, nos momentos simples de observação e reflexão.
Elas me lembraram que a natureza é um grande professor, e que sempre há algo novo para aprender, mesmo nas situações mais inesperadas.
Nós, seres humanos, nos consideramos muito evoluídos e racionais, mas na realidade, somos só mais uma espécie que segue seu caminho, exatamente como todas as outras. A espécie evoluiu, teve sucesso ecológico, dominou o ambiente, está acabando com os recursos de seu ecossistema e segue para o declínio.
Quem somos nós?
Nossa espécie ainda não encontrou seu caminho para escapar do destino ecológico, tão comum na natureza. Somos mais uma espécie em um dos trilhões de pedaços de rocha que se deslocam pelo espaço infinito.
Naquele momento, veio em minha mente uma frase que nunca vou esquecer:
“Como indivíduos, somos fantásticos. Como sociedade, inconsequentemente irracionais!”
E hoje, ao ler mais notícias sobre pessoas inocentes sendo bombardeadas e incêndios criminosos em um mundo com crescentes desastres ambientais, lembrei novamente daquelas pequenas aranhas..
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!
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Por Leonardo Merçon
Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, apaixonado pelo meio ambiente! Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳 (Foto de making of: Iago Bueno)
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