A lagartixa e a aranha no ciclo da vida; veja fotos

A história da lagartixa e da aranha revela a fragilidade da vida na Mata Atlântica. Através de imagens impactantes, exploramos o ciclo natural no Instituto Terra

26 de setembro de 2024
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Aranha captura uma lagartixa nas trilhas do Instituto Terra, representando o ciclo natural da vida

Aranha predando uma lagartixa nas trilhas do Instituto Terra, em Aimorés, Minas Gerais. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Ao caminhar pelas trilhas do Instituto Terra, em Aimorés, sob o calor implacável de Minas Gerais, eu me vi mais uma vez confrontado pela brutalidade da natureza. 

Um cenário que deveria ser calmo, envolto no canto dos pássaros e no farfalhar das folhas, acabou me lembrando da fragilidade e da beleza do ciclo da vida. 

Foi um momento que marcou não só com uma fotografia interessante, mas também minha compreensão do papel humano dentro desse complexo equilíbrio natural.

Em um instante

Era um dia como qualquer outro na missão de registrar os renascidos fragmentos da Mata Atlântica do Instituto Terra, estávamos eu e Ilka, minha companheira, explorando cada canto desse espaço restaurado, ansiosos para registrar imagens que dessem voz à natureza, que aos poucos reconquista esse pedaço de chão devastado no passado. 

A câmera já estava em mãos, pronta para o próximo clique, quando um pequeno movimento à minha frente me atraiu a  atenção.

Uma lagartixa, ágil como sempre, saltou em minha direção. Instintivamente, movi meu pé para não pisar no pequeno animal, mas, para minha surpresa, esse ato defensivo resultou numa situação ainda mais dramática. 

A lagartixa mudou de rota bruscamente e, sem perceber o perigo, correu diretamente para as presas de uma aranha, que rapidamente a capturou. 

Aranha captura uma lagartixa nas trilhas do Instituto Terra, representando o ciclo natural da vida

Aranha predando uma lagartixa nas trilhas do Instituto Terra, em Aimorés, sob o calor implacável de Minas Gerais. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgio

Em poucos segundos, o ciclo natural havia se completado, com a aranha aproveitando a oportunidade inesperada. 

Aquele foi um momento que me congelou no lugar. Eu sabia que estava apenas observando o curso natural das coisas, mas não pude evitar o peso da culpa por ter, mesmo sem querer, facilitado o destino da lagartixa. 

Naquele instante, refletir sobre a fragilidade da vida se tornou inevitável. Pequenos gestos, que a nós parecem insignificantes, como uma caminhada desatenta na floresta, podem ter consequências que vão muito além de nossa compreensão imediata.

Entre a câmera e o ciclo natural

Fotografar a cena que se seguiu foi um desafio emocional. Há algo poderoso e ao mesmo tempo desconcertante em registrar esse lado “cru” da natureza, especialmente quando você, como observador, de alguma forma interveio na sequência de eventos.

A aranha, com suas quelíceras já fixadas no corpo da pequena lagartixa, parecia dominar a cena com precisão implacável. 

E a lagartixa, um animal que não é conhecido por ter a capacidade de expressar emoções, em seus últimos instantes, parecia expressar o que sentia  naquele momento. Isso nos lembrava da vulnerabilidade que permeia cada ser vivo.

Aquela imagem que capturei – uma aranha predando uma pequena lagartixa de boca ainda aberta em um último gesto – se tornou uma metáfora pessoal sobre o impacto que cada ação nossa, por menor que seja, pode ter sobre o meio ambiente. 

As espécies 

A lagartixa fotografada pertence a um grupo de répteis conhecidos por sua incrível agilidade e capacidade de se camuflar no ambiente. 

Embora seja uma espécie exótica de origem africana, a Hemidactylus mabouia se adaptou tão bem ao ambiente brasileiro que é frequentemente encontrada em áreas urbanas, inclusive,  desempenhando um papel no controle biológico de pragas, como mosquitos e baratas.

Já a aranha-lobo pertence a uma das muitas espécies encontradas nos biomas brasileiros, especializada em capturar suas presas no chão da floresta. 

Embora muitas vezes temidas, essas aranhas são essenciais para o equilíbrio ecológico, controlando populações de pequenos animais e, assim, contribuindo para a saúde do ecossistema.

A transformação do Instituto Terra

Essa história se desenrola no cenário do Instituto Terra, onde Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado começaram um dos mais inspiradores projetos de restauração florestal do Brasil. 

 

Sebastião Salgado e Lélia Wanick acompanhados do fotógrafo de natureza Leonardo Merçon no território do Instituto Terra / FOTOS: Leonardo Merçon e Lais Pimentel

Cada passo que dou ali me lembra do poder da regeneração e da resiliência da natureza, desde que lhe seja dada a chance de se recuperar. A paisagem, antes castigada pela degradação, agora floresce com uma nova vida—animais retornam, plantas renascem, e o equilíbrio, lentamente, começa a se restabelecer.

E é nesse contexto que a história da lagartixa e da aranha se desenrola. Ali,  em mais um dos milhões de momentos impressionantes da natureza, que normalmente, não há ninguém para testemunhar.

A fragilidade em nossos passos

Minha experiência no Instituto Terra não é apenas um exercício de fotografia, mas um constante lembrete de que estamos todos ligados a algo maior. 

Fotografar a natureza é, em muitos sentidos, uma forma de diálogo com o mundo ao nosso redor, e cada foto que registro tem uma história própria, um pedaço de vida capturado para contar uma história da vida real. 

O que mais me marcou naquela tarde foi que, como fotógrafos, somos observadores, sim, mas também participantes, mesmo quando não queremos. 

E cada decisão, por menor que seja, pode desencadear um efeito muito maior. Essa percepção sempre me trás uma sensação de responsabilidade sobre como agir e interferir no ambiente ao meu redor.

Vista de áreas restauradas do Instituto Terra, mostrando a recuperação da Mata Atlântica

Áreas recuperadas do Instituto Terra, destacando a regeneração da Mata Atlântica após o projeto de restauração. | Foto: Ilka Westermeyer / Instituto Últimos Refúgios

Uma mensagem de renovação

E assim, a história da lagartixa e da aranha se torna mais que uma curiosidade da natureza. Ela se transforma em uma reflexão sobre o impacto de nossas escolhas diárias. Enquanto caminhamos pelas “trilhas da vida”, muitas vezes esquecemos que também estamos traçando caminhos de ação que reverberam ao nosso redor.

Se você curte histórias e imagens reais da natureza, compartilhe esta publicação com seus amigos. A natureza nos lembra de nossa conexão com o todo, e sua visita pode ser mais que uma viagem—pode ser uma forma de contribuir para a proteção desse frágil equilíbrio.

Curta, comente e compartilhe este conteúdo. Sua interação é essencial para manter viva a minha chama da conservação. 

Espero que tenha gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!

 

Por Leonardo Merçon

Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza sorri enquanto um passaro chamado de "corrupião" ou "sofrê" pousa em sua câmera, interagindo com o fotógrafo.

Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, apaixonado pelo meio ambiente! Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳 (Foto de making of: Iago Bueno)

 


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