A câmera não capta somente uma imagem de um animal em movimento. Ela captura uma história.
Uma aventura que os olhos de quem vive na natureza conseguem traduzir em uma mensagem de conservação.
E foi em uma dessas jornadas que encontrei um animal raro da Mata Atlântica, o ouriço-preto (Chaetomys subspinosus).
Para um fotógrafo de natureza como eu, cada encontro com espécies ameaçadas de extinção é um privilégio que merece ser registrado e, mais importante, compartilhado.
Esta história é sobre o registro do ouriço-preto, que fiz em Guarapari- ES. Ela também conta como essa imagem carrega uma mensagem importante.
No coração da Restinga Capixaba
Era 2007. Eu tinha apenas três anos de experiência na fotografia de natureza, com recursos limitados e ainda dividindo a prática fotográfica com outras atividades para garantir o sustento.
Na época, eu estava no início de meu primeiro grande projeto, um livro sobre a biodiversidade do Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari, Espírito Santo. Era meu projeto final do curso de Design Gráfico na UFES.
A reserva, que guarda uma rica diversidade de flora e fauna, foi o palco de algumas das experiências mais marcantes da minha carreira.
Nessa jornada, não estava sozinho. Contei com a ajuda de Toninho Mateiro, um verdadeiro mestre das matas, que já havia trocado a caça pela ajuda a pesquisadores e projetos de conservação.
Toninho Mateiro cresceu na região do Parque Paulo César Vinha e é considerado um dos principais especialistas práticos de natureza do Estado. O Instituto Últimos Refúgios produziu um documentário sobre essa figura ilustre e um panorama sobre o local, incluindo um alerta sobre a preservação da área. Confira:
Toninho conhecia a floresta como ninguém e, com sua ajuda, conseguimos encontrar o ouriço-preto, um animal de movimentos lentos, mas extremamente habilidoso em se camuflar na vegetação densa da restinga.
A sessão fotográfica com o ouriço-preto
Quando encontramos o ouriço-preto, imediatamente procurei os melhores ângulos para fotografá-lo.
A mata do Parque Paulo César Vinha não é alta e as árvores da restinga (ao menos no local onde estávamos), com cerca de três metros, nos permitiam acompanhar os movimentos do animal.
Ele se deslocava entre os galhos e cipós com uma lentidão quase ensaiada, mas sempre atento à nossa presença.
Esse foi o ponto chave para conseguir um registro tão especial. Quando ele se posicionou em um local limpo sem nenhum obstáculo que atrapalhasse visualizá-lo por completo.
Eu estava empolgado, pois tinha acabado de comprar meu primeiro conjunto de flashes.
E foi justamente essa compra que fez toda a diferença. A floresta densa bloqueava a luz natural, mas os flashes garantiram que eu conseguisse uma boa iluminação, mesmo no escuro da mata.
O ouriço, talvez sem entender o que estava acontecendo, tentou se afastar, movendo-se com pelos cipós. Não podíamos prolongar muito aquele momento e, em poucos minutos, já havíamos feito as fotos e o deixado seguir seu caminho.
Conexão
A sensação de estar tão perto de espécies ameaçadas de extinção, como o ouriço-preto, é emocionante.
Eu gosto de pensar que, se ele pudesse entender, perceberia que o incômodo de nossa presença serviu a um propósito maior. Valeu o estresse que passou ao fugir da gente.
Essa imagem é amplamente utilizada para ilustrar artigos científicos, listas de espécies ameaçadas de extinção e materiais de divulgação sobre a espécie, sensibilizando pessoas sobre a importância de conservar essa criatura tão carismática, bem como seu habitat.
Foram apenas alguns minutos que permanecerão comigo para sempre.
E o fato de ter conseguido fotografá-lo em seu habitat natural, com uma boa iluminação, tornou o registro ainda mais especial.
Curiosidades sobre o ouriço-preto
O ouriço-preto é uma espécie fascinante. Ele habita as florestas brasileiras e é parte importante da cadeia alimentar.
Tem um comportamento noturno e passa quase todo o tempo nas árvores, usando sua cauda preênsil e suas garras afiadas para se locomover com segurança pelos galhos e cipós.
Essas adaptações o ajudam a se camuflar e economizar energia, já que sua dieta folívora é pobre em nutrientes.
Ele encontra-se ameaçado de extinção, tendo a classificação de VU (Vulnerável) na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O papel da fotografia
Como fotógrafo de natureza, meu maior orgulho é ver minhas imagens sendo utilizadas para algo maior do que meu trabalho como artista.
Ver essas fotografias serem amplamente usadas para representar o ouriço-preto faz todo o esforço valer a pena.
Espero que o público perceba a beleza e fragilidade dessa espécie, e entenda o quanto é importante protegê-la.
Um chamado à ação
A história dessa foto retrata que o ouriço-preto, por ser tão raro, simboliza a luta pela conservação da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo.
Por isso, minha mensagem final é clara: devemos cuidar do que resta da nossa biodiversidade.
Cada vez que uma espécie se aproxima da extinção, estamos mais perto de perder um pedaço da nossa história.
E no meu ponto de vista, uma espécie extinta mais próxima do colapso de nossa própria espécie.
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Sua interação é importante para manter viva a minha chama da conservação e mostrar ao mundo a importância de proteger nossa biodiversidade.
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!
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Por Leonardo Merçon
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