Praia do Anjo: uma história de ressignificação e valorização

A emocionante descoberta de um peixe-anjo e a ressignificação da Praia do Anjo inspiram a conservação da biodiversidade marinha

6 de novembro de 2024
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Encontro com o Anjo dos Mares

Quando eu era menino, a ideia de explorar o fundo do mar era algo que sempre me atraía. Aprendi a nadar cedo, então, nunca vi o mar como uma ameaça, mas sim uma fronteira a ser descoberta. Encontrar segredos imaginários escondidos em águas que eu ainda não conhecia. 

Décadas depois, já estava familiarizado com as praias e muitos dos locais de mergulho na costa da capital capixaba

Foi ali que a realidade superou meu imaginário. Em uma dessas expedições encontramos um ser que parecia saído de um livro de lendas: o peixe-anjo (Holacanthus ciliaris).

Peixe-anjo nadando entre as águas cristalinas da Baía do Espírito Santo, um símbolo da biodiversidade marinha local

Peixe-anjo nadando nas águas da Baía do Espírito Santo, um exemplo da rica fauna marinha da região | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Em um dos mergulhos, o amigo Paulo Rodrigues me chamou e mostrou o que havia achado. O peixe-anjo. A partir daí, sempre que queriamos ir naquele local, diziamos:  “Vamos para a Praia do Anjo”. Um nome que acabou pegando, pois trouxe uma nova face para o lugar.

Este peixe, com suas cores vibrantes e movimentos elegantes, tornou-se um símbolo para mim e para aqueles que o conheceram. 

O nome substitui um antigo apelido, repleto de conotações negativas, e ajudou a mudar a imagem da região. Em vez de um local associado a comportamentos inapropriados, a “Praia do Anjo” ganhou uma aura de respeito e admiração. 

Vista panorâmica das praias ao norte da Praia de Camburi, incluindo a Praia do Anjo.

Paisagem das praias ao norte de Camburi, com destaque para a Praia do Anjo | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

É impressionante ver como a presença de uma única espécie pode transformar a visão de um território.

As Maravilhas Submersas da Baía do Espírito Santo

Mergulhar na Baía das Tartarugas é como folhear um livro que nunca se cansa de nos surpreender. Cada sábado e domingo passado ali com amigos trouxe uma nova descoberta. 

Com a experiência de quem, desde criança, nadou e se aventurou entre pedras e ostras e equipado apenas com snorkel, fui explorando cada fresta, cada recanto. 

Fotógrafo Leonardo Merçon, capturado em foto aérea enquanto mergulha nas águas da Baía das Tartarugas

Leonardo Merçon em busca de registros da biodiversidade marinha para o livro sobre a Baía das Tartarugas | Foto: Augusto Gomes

A força das ondas era um desafio, mas lições aprendidas quando criança, após muitos cortes e arranhões, me ajudaram a navegar aquele ambiente rochoso cheio de ostras e espinhos.

Leonardo Merçon fotografado embaixo d'água enquanto registra a biodiversidade marinha da Baía das Tartarugas

Making of de Leonardo Merçon fotografando a biodiversidade marinha da Baía das Tartarugas | Foto: Augusto Gomes

Em uma dessas manhãs, ao explorar uma das formações rochosas repletas de pequenos esconderijos, o belo peixe-anjo apareceu. Ele parecia observar o movimento, porém tímido em seu lar submerso. 

Três espécies de peixes, incluindo o peixe-frade, o peixe-cirurgião e o peixe-anjo, em uma loca de pedra na Baía das Tartarugas

Local de refúgio entre pedras para diversas espécies marinhas | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Naquele instante, senti uma alegria tão pura que só quem compartilha momentos assim entende. Saber que ali, na minha terra, existe uma biodiversidade tão rica, me fez ter ainda mais orgulho desse cantinho de Vitória. 

Cada mergulho me mostrava um Espírito Santo ainda mais deslumbrante.

O Mistério e a Beleza do Peixe-Anjo

O peixe-anjo, com seu corpo azul e amarelo brilhante, é uma obra-prima da natureza. Essas cores são sua assinatura, mas também uma estratégia de defesa e comunicação. 

Este peixe é um herbívoro que alimenta de esponjas e corais e é conhecido por viver em harmonia nos recifes do litoral brasileiro. 

Peixe-anjo e peixe-frade dividindo um espaço entre pedras vulcânicas na Baía das Tartarugas

Peixe-anjo e peixe-frade encontrando abrigo nas pedras vulcânicas da Baía das Tartarugas | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Curiosamente, ele possui uma “auréola” na testa que o distingue de outras espécies. Este detalhe único é um reflexo do seu nome popular, como se fosse um verdadeiro “anjo” guardião do recife. 

Close-up do peixe-anjo com detalhes das cores vibrantes e padrão único da espécie

Close em um peixe-anjo, evidenciando suas cores marcantes | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Saber disso faz com que o encontro com ele seja ainda mais especial, como se estivéssemos sendo abençoados com a presença de uma espécie quase mística.

Um Novo Significado

A cada foto registrada, a cada história compartilhada, aquele lugar ia se transformando. A comunidade começou a ouvir o nome “Praia do Anjo” da Baía  das Tartarugas e, aos poucos, a praia foi ganhando seu novo nome. 

A cultura tem o poder de ressignificar territórios, e ali, nas águas da Baía do Espírito Santo, esse poder ficou evidente. A presença constante da comunidade fez com que a antiga reputação do lugar fosse sendo apagada, substituída por uma admiração pela natureza e pelos seus habitantes. 

Para mim, cada imagem além de uma linda lembrança, é uma forma de proteger os animais e ecossistemas.

Lançamento do Livro

Nesta sexta-feira, dia 8 de novembro, será um marco especial. O lançamento do livro “Baía das Tartarugas: Riqueza Marinha na Capital do Espírito Santo”, no Projeto Tamar, em Vitória, é uma oportunidade de celebrar essa biodiversidade única e a importância da Unidade de Conservação marinha da nossa capital. 

Mockup digital do livro “Baía das Tartarugas: Riqueza Marinha na Capital do Espírito Santo”

Mockup do livro “Baía das Tartarugas: Riqueza Marinha na Capital do Espírito Santo” | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Este livro é fruto de uma parceria do Instituto Últimos Refúgios e do Projeto de Conservação da Baía das Tartarugas, com o apoio da Prefeitura de Vitória e o patrocínio do Grupo Águia Branca. 

Quem estiver presente poderá garantir um exemplar gratuito e conhecer mais sobre as histórias e a cultura que moldam nosso litoral. É um convite a conhecer e preservar nossa herança natural.

Um Convite

A Praia do Anjo e a Baía das Tartarugas são testemunhas da nossa relação com o mar e do nosso compromisso com a conservação. 

É com muito orgulho que apresento um pedaço do Espírito Santo que merece ser conhecido e protegido.

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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!

Por Leonardo Merçon

Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza sorri enquanto um passaro chamado de "corrupião" ou "sofrê" pousa em sua câmera, interagindo com o fotógrafo.

Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável, apaixonado pelo meio ambiente! Junte-se a mim nesta incrível jornada de descobertas sobre a vida selvagem e veja mais histórias lindas que vivo estando sempre explorando a natureza. 🌳 (Foto de making of: Iago Bueno)

 


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