Enquanto a maré abaixava, revelando raízes intrincadas e sedimentos carregados de vida, lembrei-me de como essa paisagem moldou parte da minha jornada como fotógrafo de natureza.
Entre encontros inesperados com aves raras e os delicados caranguejos coloridos, percebi que cada clique da câmera era uma tentativa de eternizar a essência desse berçário natural.
A Imponência do Manguezal Urbano
Vitória abriga um dos maiores manguezais urbanos do mundo, cobrindo quase 10% de seu território. Esse pulmão verde da cidade, e berçário para animais marinhos, que envolve a Estação Ecológica do Lameirão, estende-se por 891 hectares, protegendo três espécies de mangue (plantas): vermelho (Rhizophora mangle), branco (Laguncularia racemosa) e preto (Avicennia schaueriana). Para mim, é um organismo vivo, onde cada raiz e folha contam histórias de resiliência.
Ao longo dos anos, participei de diversas ações nesse ambiente: desde documentar atividades de monitoramento e limpeza até expedições para registrar a biodiversidade. Encontrei espécies que pareciam esconder-se do olhar humano. Um dos momentos mais marcantes foi o registro da saracura-matraca, uma ave de chão, que na época em que as vi, não eram muito comuns no Espírito Santo. Elas me fizeram esperar horas por apenas alguns segundos de interação com seu comportamento elusivo, escondendo-se por entre as raizes dos mangues.
Variedade de espécies e cores
Os caranguejos, com suas cores e comportamentos únicos, são personagens inesquecíveis. Encontrei por lá o chamativo aratu-vermelho subindo pelas raízes aéreas enquanto o robusto caranguejo-uçá, de colocação mais branca/roxa, desfilava no solo lodoso. Já o Guaiamum, de um lindo azul vivo, ameaçado de extinção e os pequenos caranguejos chama-maré habitavam os terrenos de solo mais firme. Nessas ocasiões, aprendi que o manguezal é um lar de interações únicas e de adaptação constante.
Caranguejos aratu-vermelho, uçá, guaiamum e chama-maré respectivamente (da esquerda para a direita) | FOTOS: Leonardo Merçon/ Instituto Últimos Refúgios
Inclusive, não posso esquecer o momento em que fotografei um savacu-de-coroa capturar um caranguejo-uçá com destreza impecável. Enquanto observava essa cena, fiquei impressionado com como a ave conseguia se alimentar do caranguejo, com a casca tão dura.
Um Ecossistema Fundamental
Os manguezais são muito importantes para cadeia dos ambientes costeiros. Como berçários da fauna aquática marinha, fornecem abrigo e alimento para espécies que dependem desse ambiente para crescer antes de se aventurarem no oceano. Além disso, eles são barreiras naturais contra a erosão costeira e ajudam na purificação da água. Em Vitória, esse ecossistema desempenha um papel vital não apenas para a biodiversidade, mas também para a economia local, sustentando famílias de pescadores e catadores.
Ao lado da biodiversidade, o manguezal também é uma memória viva da história de Vitória. Este espaço já sofreu muito com aterros e ocupações humanas. Hoje, iniciativas de proteção, como as ações realizadas pela Prefeitura e por OSCs, tentam mostrar que a mudança é possível, apesar de enfrentarmos muitos desafios.
Colhereiros em busca de alimento nas águas do manguezal. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Valorização do Manguezal
Esta semana está acontecendo o I SimManguES, um evento que celebra e debate a importância desses ecossistemas, reforça a necessidade de unir esforços para garantir que o manguezal de Vitória continue vivo e vibrante. É gratificante ver tantas pessoas engajadas, buscando soluções para preservar essa riqueza natural.
O evento é uma realização da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEAMA, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE e a FAPES – Fundação de Amparo à Pequisa e Inovação do Espírito Santo.
Mais informações do que rolou no evento podem ser obtidas Aqui.
Ninhal de garças-brancas e garça azul pousadas no manguezal | FOTOS: Leonardo Merçon | Instituto Últimos Refúgios
Como proteger os Manguezais?
Encerrar um texto sobre o manguezal de Vitória sem destacar sua importância seria impensável. Cada raiz aérea, cada ave em voo e cada caranguejo em sua andança são sinais da resiliência da vida. O manguezal é um tesouro que pertence a todos nós e merece nossa atenção e cuidado.
Proteger o manguezal de Vitória exige ações coordenadas e engajamento da comunidade. Investir em educação ambiental, especialmente para as comunidades próximas, é fundamental para conscientizar sobre a importância desse ecossistema.
Além disso, reforçar a fiscalização contra despejo de resíduos (como o elemento químico azul da última semana) e ocupações irregulares ajuda a evitar danos irreversíveis.
Práticas simples, como evitar o descarte de lixo nos rios e praias que alimentam o manguezal, também fazem a diferença. Projetos de restauração, como o plantio de mudas de mangue, como o que está sendo proposto no novo edital com prazo prorrogado até dia 26 de Novembro e a proteção de espécies nativas, são essenciais para recuperar áreas degradadas.
Por fim, apoiar iniciativas de conservação como o monitoramento da biodiversidade e eventos como o SimManguES fortalece as políticas de conservação e mostra que a união entre sociedade e ciência pode garantir um futuro sustentável para esse berçário de vida.
Divulgação
Divulgar informações sobre os manguezais também ajuda a sensibilizar pessoas. Portanto, se você gostou dessa história, compartilhe-a com amigos e familiares. Sua interação é importante para manter viva a minha chama da conservação e mostrar ao mundo a importância de proteger nossa biodiversidade.
Espero que tenham gostado desta jornada pelos manguezais de Vitória. Te vejo na próxima aventura!
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Por Leonardo Merçon