Como fotógrafo de natureza, minha vida tem sido uma constante exploração da beleza e da fragilidade dos ambientes naturais. E uma história que sempre me fascinou foi a do mutum-de-bico-vermelho na Mata Atlântica.
Cada aventura é uma oportunidade de compartilhar com o mundo as maravilhas e os desafios que enfrentamos na conservação do meio ambiente.
Uma dessas jornadas, no entanto, ficou marcada em minha memória.
Era um dia ensolarado no coração da Mata Atlântica, durante uma expedição (2013) em busca de vislumbrar a majestosa fauna e flora em uma propriedade anexa à Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural Vale, a Fazenda Cupido & Refúgio.
Tive uma surpresa que me fez parar o coração. Fiquei cara a cara com o mutum-do-sudeste, também conhecido como mutum-de-bico-vermelho (Crax blumenbachii), uma das aves mais emblemáticas da região.
Este encontro revelou-se como um presente inesperado, pois o mutum-do-sudeste é uma espécie em perigo crítico de extinção, com poucas centenas de indivíduos restantes na natureza.
Como era minha primeira vez explorando esse território, ainda não sabia da existência e também da raridade dessas aves.
O mutum-de-bico-vermelho
Essa espécie de mutum é endêmica do bioma Mata Atlântica. Seu habitat natural é composto por matas primárias em regiões quentes e úmidas, limitadas a pequenas áreas que se estendem do sul da Bahia até o norte do Rio de Janeiro e Minas Gerais, tendo sua maior população concentrada no complexo florestal Sooretama-Linhares.
Medindo 84 centímetros de comprimento e pesando 3,5 quilogramas, os machos são caracterizados por sua plumagem negra, ventre branco e bico vermelho.
Já as fêmeas também de tons pretos, porém, têm a parte ventral e embaixo da cauda tons alaranjados e asas rajadas e ferrugíneas e um topete escuro e vistoso com pintas brancas.
Essas aves se alimentam principalmente de frutos, sementes, pequenos animais, como insetos e moluscos, e folhas.
Elas desempenham um papel crucial na dispersão de sementes, ajudando na regeneração das florestas.
Ameaças e conservação
No entanto, a caça e a destruição de seu habitat ameaçaram drasticamente essa espécie. Atualmente, o Mutum-do-Sudeste é considerado globalmente “em perigo”, uma classificação de grau de ameaça de extinção preocupante, atribuída pelo BirdLife e IUNC.
A sorte desse encontro foi que estávamos nessa fazenda particular, onde o proprietário, ciente da importância da preservação, proibia a caça dessas aves.
Graças a essa atitude deste fazendeiro, o mutum-do-sudeste encontrou um refúgio seguro e que o ajudou, dentro de outros fatores importantes, escapar do triste destino da extinção.
Foi interessante reparar a tranquilidade delas, que caminhavam calmamente em uma plantação de cacau, próximas às construções humanas, uma vez que se sentiram seguras com a ausência da caça.
Esperança
A esperança reside nas iniciativas de conservação que muitos ambientalistas, como eu, estão empenhados em promover.
A sociedade está começando a reconhecer a importância da conservação da natureza, e entender que espécies como o mutum-do-sudeste não são apenas atrações turísticas para as regiões em que habitam, mas também peças vitais no grande ciclo natural das florestas da Mata Atlântica.
Eles representam a resiliência das espécies, que, apesar da pressão humana, persistem em sua busca pela sobrevivência.
Com esforços coordenados e o apoio de todos, podemos garantir que essas aves lindas continuem a fazer parte de nossa preciosa Mata Atlântica.
Nossa jornada pela conservação é árdua e exige um esforço contrário e reformulação de como lidamos com os recursos naturais.
E sim, tenho esperança de que podemos assegurar que esse pássaro incrível tenha um futuro na Mata Atlântica, e que possa se multiplicar e se dispersar para outras áreas de floresta, estejam elas em fazendas de cultivo consciente ou em áreas protegidas.
Por Leonardo Merçon
Fotógrafo e Cinegrafista de natureza, fundador do Instituto Últimos Refúgios, apaixonado pelo meio ambiente!
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