O mito da virgindade

Se você é mulher e nasceu entre os anos 80 e 90, esse artigo é para você.

Eu nasci dentro de um contexto social em que a mulher para ser valorizada deveria “guardar sua virgindade” até o casamento.

Me lembro de amigas comentando que não podiam perder a virgindade porque a mãe as levava periodicamente ao médico para verificar se o hímen estava intacto, e isso acarretava até a práticas perigosas à saúde de forma desprotegida.

O tal evento era passado como traumático, doloroso e sangrento (pausa dramática). Expor algo desse tipo, ou conversar com nossos pais e responsáveis sobre o assunto, era considerado uma falta de respeito.

E então? O que fazíamos em relação aos hormônios que eram produzidos em nosso corpo? Algumas pessoas reprimiam e outras desobedeciam a sociedade.

Eu era desobediente. Tive minha primeira relação antes do casamento e, diferente do que todos diziam, a minha primeira relação não doeu e não sangrou. Eu me senti uma alienígena e escutei do meu namorado na época que eu estava mentindo em relação à minha virgindade.

Mas estar aqui levando conhecimento para vocês do que eu gostaria de ter tido e compartilhado há 12 anos atrás é uma oportunidade que não posso deixar passar. Então vamos lá!

O medo da primeira relação sexual

Nenhuma relação sexual deve ser dolorosa ou apresentar sangramentos, independentemente de ser a primeira ou não.

Especificamente falando da primeira relação, muitas pessoas atribuem esses fatos para o rompimento do hímen. Porém, com o passar do amadurecimento do corpo e o início da puberdade, ele vai perdendo a sua função, que é basicamente de proteção do canal vaginal contra microrganismos.

Ele se torna então um tecido sem inervação e vascularização, como uma cutícula de unha. Ou seja, ele também se torna frágil e pode romper a qualquer momento, independentemente de ser em uma relação ou não.

Mas eu me considero a minoria entre as obedientes e desobedientes. A maioria das mulheres sentiu sim dor na primeira relação e teve sim um sangramento. Isso ocorreu devido ao medo que foi passado de geração em geração.

Esse medo fez com que essas mulheres ficassem no modo de luta e fuga no momento. Seus assoalhos pélvicos travaram, tentando impedir a penetração, gerando dor. A lubrificação foi quase inexistente, propiciando o rompimento de pequenos capilares sanguíneos do canal e um consequente sangramento.

Pois é, minhas amigas. Hoje, nós que passamos por isso ou estamos com filhos e nos preparando para tê-los ou, devido a todo esse contexto, ainda estamos com medo de engravidar na “adolescência”.

 

Mas então o que dizer às nossas filhas agora que o fator de que não pode porque dói e sangra foi desmascarado?

Conversar sobre o respeito ao próprio corpo, não se expor em situações em que não se está totalmente à vontade, não fazer nada em razão do outro apenas para agradar  e claro,  se proteger. Lembrar sempre que os riscos de IST  (Infecções sexualmente transmissíveis) ou uma gestação não planejada existem, mesmo que pequenos em razão do uso adequado de preservativo.

Perder a virgindade é sobre assumir os riscos de uma nova fase da vida.

Thais Pagio

Fisioterapeuta Pélvica

Especializada em fisioterapia pélvica, urologia, uroginecologia e sexualidade funcional.