Saúde pélvica feminina: a área proibida da sociedade

Na infância, em uma aula sobre higiene, me lembro da diretora falar sobre como devemos secar o corpo e a exata ordem. Lembro de todo “burburinho” e cara de repulsa que ela e todas as pessoas fizeram quando a diretora falou que deveríamos deixar as partes íntimas para secar por último, para não sujar o resto do corpo. 

Mas não, esse artigo não é sobre higiene e sim sobre como aprendemos que a região intima é suja, obscena, indigna. 

Desde criança ouvimos que evacuar é nojento, que é uma coisa que só podemos fazer em casa, que não podemos falar sobre esse assunto. E esse é um dos motivos que diariamente recebo pacientes, principalmente mulheres com constipação intestinal crônica, porque aprenderam na infância que evacuar era ruim e não natural.

E quantas vezes em sua vida você urinou sem se sentar em um banheiro público? Sem saber que isso prejudica o relaxamento da sua musculatura do assoalho pélvico e o esvaziamento da bexiga. 

Já passou pela sua cabeça que se todas as mulheres se sentassem corretamente para urinar, o vaso não ficaria sujo e sim usual a todos?

Sexualidade? É um mundo proibido para todas as mulheres, começando pelo autoprazer. Para ter uma noção do quanto esse conhecimento é roubado das mulheres é só imaginar a diferença do impacto dessas duas falas: 

“Meu filho de 13 anos está demorando no banheiro. Acho que está naquela fase da masturbação”.

“Minha filha de 13 anos está demorando no banheiro, acho que está naquela fase de masturbação”.

Qual delas parece mais aceitável? 

Hoje, mais de um terço da população sofre com algum tipo de disfunção pélvica, como incontinência urinária, intestino preso, incontinência fecal, dor na relação, entre várias outras.

Mas muitas não procuram ajuda, por vergonha de compartilhar o que está acontecendo ou pela falta de informação sobre os tratamentos adequados. É comprovado cientificamente que essas pessoas, dependendo do grau de complicação do problema, tendem a se isolar socialmente podendo até mesmo desenvolver um quadro depressivo.

Nossa região pélvica não é motivo de vergonha e sim mais um local do nosso corpo que exerce funções fisiológicas e vitais. Para se ter certeza disso, imagine sua vida sem evacuar, urinar ou ter uma vida sexual ativa e saudável. Como seria? 

Naturalize mais o seu assoalho pélvico, não sofra sozinha. Não é só você que sente dor na relação, perde gotinhas na academia, passa uma semana sem evacuar ou não consegue ter orgasmo. Todas essas questões têm solução.

 

Thais Pagio

Fisioterapeuta Pélvica

Especializada em Fisioterapia Pélvica, urologia, uroginecologia e sexualidade funcional.