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Voz da inclusão

por Feapaes-ES

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Dia do Trabalhador

Capacitismo e o acesso ao mundo do trabalho

Confira o artigo de Vanderson Gaburo,  Diretor Social da Federação das Apaes do ES

O trabalho é um direito humano fundamental

Debater o acesso e a inclusão das pessoas com deficiência ao mundo do trabalho é um tema complexo, com múltiplas facetas. Por certo, não conseguiríamos esgotá-lo por aqui. Mas queremos, a partir dele, jogar luz sobre arranjos sociais moldados numa lógica do não respeito à diversidade humana e de como precisamos combater essa estrutura. Quando falamos do trabalho para as pessoas com deficiência precisamos pensá-lo como um direito humano fundamental. Nesse sentido, ninguém pode ser privado dele pela sua condição, e o trabalho passa a assumir uma dimensão que vai muito além da ocupação e da renda. O nosso ponto de partida é reconhecer que vivemos numa sociedade capacitista. Comumente pensado como o preconceito contra as pessoas com deficiência, o capacitismo está para além disso. Ele representa toda uma organização social construída para valorizar e destacar determinadas capacidades e habilidades, excluindo quem não as possua. O capacitismo é um processo e não um ato, e se perpetua através de uma combinação de ideias, práticas, instituições e relações sociais. Uma sociedade capacitista direciona quase sempre o olhar para a deficiência como uma condição individual, tentando afastar uma análise mais profunda e necessária da deficiência como uma questão social, que se manifesta no encontro da pessoa com as barreiras do meio. É uma lógica perversa, que culpabiliza pessoas e corpos, classificando-os como não aptos ou não produtivos e, assim, legitimando sua “incapacidade” de ocupar determinados espaços sociais. Esse modelo constrói uma ideia de não pertencimento ao espaço produtivo que se enraíza e se camufla como natural e inerente, tornando-se difícil de superar, o que explica termos menos de 30% das pessoas com deficiência trabalhando (IBGE), mesmo após mais de 30 anos da Lei de Cotas. Reconhecer o trabalho como um direito das pessoas com deficiência não é impor a prática do trabalho para todos. Também não é desconsiderar macro e micro análises sociológicas sobre o modelo capitalista e as relações dos sujeitos no ambiente de trabalho. É, sim, buscar romper uma estrutura capacitista. É afirmação de espaço e visibilidade. É defender a ampliação das relações sociais e apresentar novos papéis sociais que as pessoas com deficiência têm condições de exercer. É revolucionar e romper paradigmas. É oportunizar novos horizontes. É um passo para a autonomia e a vida independente. A Federação das Apaes do ES aposta e acredita nesse caminho, apontando a metodologia do emprego apoiado como estratégia para potencializar novos arranjos. Assim, seguiremos enfrentando os desafios e não normalizando a exclusão. Vanderson Pedruzzi Gaburo - sociólogo e Mestre em História Política das Relações Sociais; autor do livro “Minidicionário inclusivo: fomentando caminhos para uma sociedade menos capacitista”, e Diretor Social da Federação das Apaes do ES.