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Voz da inclusão

por Feapaes-ES

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Mês das Mães

“Ser mãe é ser forte, independente de ter ou não uma deficiência”

A coluna Voz da Inclusão entrevistou Rosilda Maria Dias, mãe e usuária de cadeira de rodas.

Confira nossa entrevista especial de Mês das Mães

Maio está acabando, o Mês das Mães. Para fechar o mês, Voz da Inclusão traz hoje uma entrevista com uma mulher incrível. Rosilda Maria Dias é moradora de Vila Velha, tem 50 anos e usa cadeira de rodas há 15, por causa de um acidente. Rosilda tem 3 filhos. Dois anteriores ao acidente (Elvis e Marvyn Alex, com 31 e 21 anos), e o mais novo, Phyetro Miguel, que veio depois de seu acidente. Phyetro Miguel tem 13 anos, e Rosilda o cria sozinha. Problemas nisso, os dois só vêm no preconceito da sociedade. “Mas eu lido com isso com muita leveza. Sabe, João, a vida é curta demais para ter tanta raiva”. Palavras sábias, Rosilda. Abaixo, nossa conversa. 1 - Rosilda, a pessoa que faz uso de cadeira de rodas encontra muitas dificuldades no dia a dia? Não é difícil, o difícil é lidar com a cidade que não está preparada para nos receber adequadamente. Os gestores não tem essa preocupação de adequar a cidade para uma locomoção para a pessoa na cadeira de rodas, sem disputar meio fio com carros. Geralmente, as calçadas adequadas são em pontos turísticos, para turista ver. Sou periférica, e onde moro é muito difícil. Vizinhos e pessoas em volta já se acostumaram comigo disputando meio fio com carros por conta da estrutura oferecida, que não é pensada para quem usa uma cadeira de rodas. 2 - Você é mãe. O fato de usar a cadeira traz dificuldades em relação a maternidade? O fato de usar uma cadeira não traz dificuldade em relação à maternidade, a dificuldade vem da atitude das pessoas em relação à maternidade sobre rodas. Existe muito preconceito em ser mãe numa cadeira de rodas. Por isso, faço questão de não colocar a minha condição, primeiro vem uma pessoa. Sou uma pessoa que usa cadeira de rodas; sou livre, independente e lúcida nas minhas atividades diárias. Isso faz com que me respeitem como pessoa, não como cadeira. Pensam que fui violentada, fizeram isso comigo, “quem fez isso?”, como se não pudesse ser amada por estar numa cadeira. Muitos tratavam como um problema, e isso me trouxe constrangimentos, mas soube lidar. E as mesmas pessoas hoje me respeitam, pois entendem que o problema não é a cadeira, e sim a atitude das pessoas. Nunca entendi meu filho como problema, ele é uma benção. Um momento muito especial foi quando encontrei outras mães com deficiência. Elas me ajudaram a entender que estava gerando um filho, não um problema. 3 - Ainda existe muito preconceito com mães com alguma deficiência? Existe, e vai demorar muito a ser superado pela sociedade. “Superação” é uma palavra que tenho cuidado para usar, e também ao receber como elogio. A deficiência não se supera. Não tenho como superar, só se eu levantar da cadeira de rodas e sair andando. Sou uma mulher com deficiência física e faço uso de cadeira. Sofro, sim, muito preconceito por isso. Com esse grupo de mães que citei antes, descobri que também posso ajudar. Fiz um curso básico de Libras para acompanhar uma mãe surda, que não conseguia atendimento porque não achava médico fluente em Libras. Então, eu a acompanhava nas consultas para fazer a tradução dela para o médico, e do médico para ela. 4 - Seu filho lida bem com o fato de você usar a cadeira de rodas? Ele fala que é raro perguntarem, mas quando algum colega pergunta na escola se isso incomoda ele, ele diz “eu não percebo a cadeira. É a minha mãe, não uma cadeira. A cadeira auxilia ela a chegar aonde precisa”. Quando ele entrou no colégio, eu não podia levar para a escola, pois a rua não é adequada. O colégio era adaptado, mas chegar ao colégio era um desafio para mim. Quando comecei minha militância, comecei a buscar essa adaptação da rua. Depois que ele saiu de lá, tive notícia de que a rua foi asfaltada, um facilitador para outras mães com a mesma necessidade. Quando ele começou a andar, aconteceu algo no mercado. Uma mãe com uma criança no colo, segurando a outra pela mão e empurrando o carrinho de compras, pergunto com deboche: “é seu filho?”. Falei “é”. Ela disse “que dó, deve ser muito sofrimento não poder carregar o próprio filho”. Eu olhei para ela e perguntei “é seu filho no seu colo?”. Ela disse “é”, e perguntei a idade, ela disse 2. Eu falei “nossa, o meu tem um ano e meio e já anda. Se ele anda, eu o coloco no chão para se desenvolver”. Outras vezes, na rua, ele andava na calçada e eu na rua, com a cadeira. Como ele é branco, e eu sou negra, as pessoas se assustavam achando que estava sozinho e não imaginavam que eu sou a mãe. Abordavam perguntando pela mãe. Se já é difícil entenderem uma criança com a mãe numa cadeira de rodas, é mais difiícil ainda uma criança branca com uma mãe negra na cadeira de rodas. Nós crescemos juntos e amadurecemos juntos em relação a essa visão das pessoas. Ele amadureceu o suficiente para não ter nenhum problema com a minha condição. E ele interage com diversas crianças, algumas com deficiência, e lida muito bem com isso. Não por ter uma mãe com deficiência, mas por eu dar a liberdade para que ele conheça e entenda o mundo, respeitando as pessoas, cada uma com sua particularidade. 5 - Alguma mensagem para mães e mulheres com deficiência que sonham ser mães? Nós escolhemos ser mães, e o que temos que fazer é direcionar o filho para ser uma pessoa boa. Como ele vai se desenvolver? Quando dizem que vão ter um filho para ajudar, digo que não é legal. Acho isso imatura por parte das mulheres com deficiência. O objetivo de ser mãe é ser mãe, não ter um auxiliar. É uma troca, resiliência. Se você quer ser mãe, seja mãe. Ser mãe é ser forte, independente de ter ou não uma deficiência.