Estudo inédito vai mapear a realidade das mulheres de Norte a Sul do ES
Estudo inédito vai mapear a realidade das mulheres de Norte a Sul do ES

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Estudo inédito vai mapear a realidade das mulheres de Norte a Sul do ES

O Atlas Mulheres Capixabas vai fazer rodas de conversas para entender as necessidades das mulheres

No Espírito Santo, as mulheres são a maioria. De acordo com o último Censo Mulheres Capixabas, feito pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) em 2022, mulheres correspondem a 51,2% (1.963.649) da população do Estado, enquanto homens são 48,8%.

Além disso, a taxa de crescimento populacional entre as mulheres foi de 7,4% e, entre os homens, foi 5,5%. As mais de 1,9 milhão de mulheres capixabas estão espalhadas por Norte a Sul do Estado, vivendo realidades paralelas, mas que se encontram em muitos pontos, sendo o principal a violência doméstica.

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Quem traz essa percepção é Daniela Bello, pesquisadora Atlas Mulheres Capixabas, uma pesquisa inédita no Brasil que busca trazer um mapeamento completo das diferentes realidades de mulheres, na busca por ajudar na produção de políticas públicas direcionadas.

Para isso, foram divididos 18 segmentos de grupos de mulheres em diferentes contextos e, por meio de rodas de conversas, as pesquisadoras buscam entender as necessidades dessas mulheres.

Daniela Bello. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“Quando começamos a analisar, nós vemos que existem diversas formas de ser mulher. Então, a gente precisa se debruçar e olhar para essas realidades e construir políticas públicas eficientes. Apesar das realidades diferentes, nas rodas de conversa a gente percebe que o tema da violência doméstica aparece em todos os contextos. Ser mulher atravessa a experiência da violência doméstica”, contou Daniela Bello.

De acordo com o Painel de Monitoramento de Violência Contra a Mulher, da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), somente no ano de 2024 foram 23.575 mulheres vítimas de violência doméstica. Neste ano, as vítimas somam mais de 4,3 mil.

Além da violência doméstica: as dificuldades das mulheres de Norte a Sul do ES

Dividida em grupos, a pesquisa já observou diversas necessidades das mulheres em contextos diferentes. Por exemplo, falta de acesso à educação, saúde e lazer. É esse tipo de mapeamento que vai permitir o desenvolvimento da política pública para cada território.

Rosimery Soares também é pesquisadora do projeto e chama atenção para as perspectivas que as mulheres têm de acordo com o contexto em que se encontram.

Rosimery Soares. Foto: Reprodução/TV Vitória

“A gente percebe que os próprios sonhos se adaptam para a realidade delas. Se elas estão perto de onde tem universidades, os sonhos vão aumentar, as narrativas serão diferentes. Mas, claro, existem temas que são comuns: a violência, racismo, sexismo”, explicou.

A pesquisadora explica, ainda, que para ter uma melhor compreensão da realidade dessas mulheres os segmentos são dividos em subsegmentos para realizar rodas de conversas.

Por exemplo, existe um segmento chamado ciclo de vida, divido no subsegmento de mulheres jovens e idosas de diversos territórios capixabas.

A secretária estadual das Mulheres, Jacqueline Moraes, explica que, além do olhar geral da política pública, o olhar para as mulheres precisa de interseccionalidade, porque elas são impactadas na saúde, educação, cultura e diversas outras áreas.

Jacqueline Moraes. Foto: Reprodução/TV Vitória

“As mulheres precisam ser conhecidas de acordo com sua especificidade de ser mulher, de acordo com o território e a cultura que está inserida. Quando falo de uma mulher quilombola, eu estou falando da que vive no Norte ou do Sul? Tem diferença. É isso que vamos ver no atlas. Temos diferentes aspectos dessas mulheres”, disse.

A importância da pesquisa para o futuro

A principal ideia de construir um atlas completo é produzir conhecimento para o desenvolvimento de novos projetos para as mulheres. Políticas que irão atuar diretamente na necessidade de cada uma.

Por isso, o envolvimento de jovens que estejam iniciando a carreira é importante. A academia tem um papel crucial para a pesquisa, que vai fazer toda a diferença para os novos profissionais que chegam ao mercado.

Camila Buzzette é estudante de jornalismo da Faesa, que é parceira do estudo com a Secretaria Estadual das Mulheres (SESM), e foi a campo participar da pesquisa Atlas. A universitária participou do segmento de mães atípicas e afirma que a falta de rede de apoio é um dos principais problemas.

Camila Buzzette. Foto: Reprodução/TV Vitória.

“São muitas mulheres que não têm rede de apoio. Se você pergunta o que é ser mulher, elas não sabem responder, porque ficam 24 horas no cuidado do outro e esquecem delas mesmas. Elas ficam sozinhas porque a família não quer ajudar, a criança dá trabalho e ela fica sozinha cuidando do filho. Essa parte ninguém vê”, disse.

Para a estudante, participar da pesquisa transformou a visão de mundo que tinha porque permitiu conhecer realidades que não fazem parte do seu ciclo de família e amigos. Principalmente, o olhar para si mesma como mulher.

Professora de Comunicação da Faesa, Mirella Bravo afirma que essa integração com o ensino é importante para o futuro, tanto na formação de novos profissionais, quanto para a produção de conhecimento para a população.

Mirella Bravo. Foto: Reprodução/TV Vitória

“Temos essa missão de promover o desenvolvimento social por meio do conhecimento. O Atlas é uma grande oportunidade porque as alunas podem ir a campo coletar não somente números, mas conhecer o rosto, a vida, a história. Fico até emocionada de dizer porque sou mãe de duas mulheres e penso no futuro, como esse projeto vai reverberar. Ele é único no país e vai auxiliar na criação de políticas inovadoras”, contou.

O Atlas das Mulheres do Espírito Santo tem previsão de ficar pronto até o final do ano. Será feito um livro com todas as informações colhidas para serem utilizados na produção de políticas públicas e dentro da academia.

“O Atlas fomenta a importância da pesquisa para a vida prática das pessoas. Não só aquela coisa distante, que fica na universidade, guardada nos livros. Os depoimentos são reveladores dentro da nossa própria realidade”, finalizou.

Carol Poleze, repórter do Folha Vitória
Carol Poleze Repórter
Repórter
Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).