1 ano após tragédia

"Ouvimos os gritos de socorro, mas não podíamos fazer nada", diz dona de casa de Mimoso do Sul

A dona de casa, Lia Márcia, de 55 anos, que perdeu tudo durante as enchentes, contou que viu uma casa de repouso em baixo d'água e ninguém conseguiu se salvar

Fotos: Reprodução/ Arquivo Pessoal

“A gente nunca espera. É muito triste e desesperador. As coisas vão acontecendo e parece que não é real”. Essas são as palavras de Lia Márcia de Barros Marone Lovatti, de 55 anos, moradora do Centro de Mimoso do Sul.

Ela, assim como outros moradores da cidade, perdeu quase tudo na enchente de 22 de março de 2024. Naquela madrugada, Lia estava em casa com o esposo, o filho, a nora e o neto quando a água começou a subir rapidamente.

Duas da manhã, o rio já estava cheio. A água entrou pela janela da cozinha e tomou a sala. Subimos para o segundo andar, mas logo tivemos que ir para o terraço, relembra.

O cenário era de desespero. “Acolhemos os vizinhos que conseguiram chegar até nós, mas não havia muito o que fazer”, conta.

Ela e sua família sobreviveram, mas viram de perto o pior da tragédia. “As casas ao lado desabaram. Em uma delas, uma casa de repouso idosos, cinco pessoas morreram. Nós ouvimos os gritos de socorro, mas não podíamos fazer nada“, lamenta.

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

A tragédia que devastou Mimoso do Sul

As chuvas intensas que atingiram Mimoso do Sul naquela semana provocaram enchentes e deslizamentos, deixando um rastro de destruição. No total, 18 pessoas morreram e mais de 10 mil ficaram desalojadas ou desabrigadas. Segundo relatos, a água atingiu o segundo andar de diversas casas e o comércio local foi gravemente afetado.

O governo estadual estima que cerca de 30% a 40% dos estabelecimentos comerciais ainda não haviam retomado suas atividades um mês após o desastre. Além disso, pontes e estradas da zona rural foram danificadas, dificultando o escoamento da produção agrícola.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória

Perdas e recomeços em Mimoso do Sul

Lia e sua família perderam tudo, móveis, roupas e utensílios de cozinha. “A casa ficou submersa por dois dias. Contamos com a ajuda de amigos para recomeçar, mas o medo ainda permanece”, diz.

A cena de destruição ainda é nítida para ela e para tantos outros moradores que viram suas vidas mudarem da noite para o dia. “É inacreditável. Parece que a qualquer momento vai acontecer de novo”, desabafa.

Apesar do trauma, a solidariedade foi essencial no período pós-enchente. “O povo colaborou muito. Recebemos ajuda de todos os lados. Sem isso, não sei como estaríamos hoje”, afirma.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
A reconstrução da cidade e os desafios

Passado um ano, os esforços de reconstrução continuam. O governo do Estado anunciou a construção de 150 casas para os desabrigados e investimentos na infraestrutura da cidade, incluindo estradas e saneamento. No entanto, os desafios ainda são grandes.

Especialistas apontam que estudos sobre o risco de enchentes na região já existiam há mais de uma década, mas poucas medidas foram tomadas para prevenir a tragédia. Para muitos moradores, fica a incerteza sobre o futuro e a esperança de que ações efetivas sejam implementadas para evitar novas catástrofes.

Mimoso do Sul ainda se recupera da pior tragédia de sua história recente. As lembranças da enchente de 2024 são dolorosas, mas a força da comunidade se mantém como um símbolo de resiliência. “A gente perdeu muito, mas seguimos em frente. Só queremos viver sem medo”, finaliza Lia.