O som do grupo luso-brasileiro Coladera nasce de vários diálogos. Quase sempre entre os dois violões, do mineiro Vitor Santana e do português João Pires, e a percussão de Marcos Suzano (ou de Miroca Paris, músico cabo-verdiano agora afastado do projeto para tocar com… Madonna). Mas também do diálogo entre os sotaques – de Brasil, Portugal e da África lusófona – que transbordam de La Dôtu Lado, o disco lançado em 2018 no Brasil e na Europa que abriu portas para o grupo formado há sete anos em Belo Horizonte.
O Coladera apresenta suas canções neste sábado, 29, na Casa de Francisca, em São Paulo, e depois parte para uma nova turnê europeia, cuja parada de luxo é, na semana que vem, dia 3 de julho, no Montreux Jazz Festival, onde toca no mesmo dia que Joan Baez e Ivan Lins. Os ingressos para o show na Casa de Francisca, às 22h, custam R$ 53.
Se o violão e a percussão do samba servem como ponto de partida das canções do Coladera, as músicas ganham vida própria ao esticar alças para os caminhos mais truncados do violão do fado, e para os batuques do lundum angolano e, claro, da coladeira cabo-verdiana. “Cada ilha de Cabo Verde tem mais de um ritmo próprio, e a coladeira é mais da Praia, da capital”, explica o cantor e compositor Vitor Santana, por telefone. “É uma coisa entre o samba e o baião, seria por aí.”
Ele compara a formação de Cabo Verde à do Brasil, de colonização portuguesa e massiva presença de africanos, situando aí um dos motivos de a produção do grupo soar tão orgânica – e oferecer uma sensação transatlântica de pertencimento. “Com o tempo, consolidamos no grupo uma troca de experiências e acabou virando um hub de ações em língua portuguesa. Trabalhamos num estilo de composição nosso, que sempre tem a ver com o coladeira, sempre ligado ao swing, ao groove, com três ou no máximo quatro pessoas no palco.” O idioma das canções é sempre o português (José Eduardo Agualusa é um dos parceiros de composição), mas duas faixas são cantadas em língua crioula, de Cabo Verde.
O grupo prepara um novo álbum para o ano que vem, e Santana chama a atenção para o caráter dominantemente audiovisual do projeto. “Acredito que o futuro está ligado ao audiovisual, porque é uma indústria mais forte. A música ainda está sem modelo de mercado, não se sabe exatamente como dar certo na música.
Estamos apostando em um formato novo para poder crescer ainda mais”, conta – em alguns shows maiores, imagens dos países envolvidos no projeto e de entidades do candomblé são projetadas, como parte dessa preocupação. “O Coladera é esse ajuntamento de tudo, que conseguiu chegar a um terceiro elemento com resultado artístico”, resume o músico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.