Exportações de café são recorde no 1º trimestre de 2021
Desde o início da pandemia, as variações na taxa de câmbio do real em relação ao dólar são tema de análise no cenário macroeconômico brasileiro. No mês de março, por exemplo, a razão de troca para a moeda americana fechou em queda de 6%, atingindo um patamar próximo de R$ 5,40. Nesse sentido, como os preços de insumos e as exportações são afetadas pelo dólar, o agronegócio não fica de fora desse contexto.
Segundo relatório de Felippe Serigati e Roberta Possamai, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em geral, a taxa de câmbio influencia a agropecuária por dois canais de transmissão: os custos e as receitas dos produtores. O primeiro, deve-se à cotação dos insumos associados ao preço internacional, ou seja, uma alta no dólar, por exemplo, tende a gerar aumentos nos gastos com produção. Por outro lado, boa parte dos produtos é exportada, e por isso, o faturamento também se associa ao preço global no momento de venda.
Nesse caso, imagina-se que os recentes movimentos beneficiam os produtores que focam na exportação, visto que parte da sua receita é recebida em dólares. Em contraponto, para o transporte de cargas e produtos, o cenário não é o ideal. Isso porque o dólar influencia nos preços dos combustíveis, que são essenciais quando o transporte rodoviário é relevante no país, como é o caso do Brasil. Nesse sentido, a logística e alocação dos produtos se tornou mais cara internamente.
Assim, com o grande incentivo para as exportações, alimentos produzidos em território nacional se tornam mais caros e escassos, indicando que os brasileiros em geral também perdem com depreciações sucessivas da moeda brasileira. Foi o que aconteceu na transição entre 2020 e 2021.
No ano passado, para o caso do café, por exemplo, o Brasil bateu recorde de exportações, chegando ao número de 44,5 milhões de sacas exportadas, ou seja, um aumento de 9,4% em relação à 2019, de acordo com dados da Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Já no primeiro trimestre deste, foram vendidas para o mercado internacional cerca de 11,015 milhões de sacas, crescimento de 10,4% na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior, segundo a Cecafé.
Para o agronegócio como um todo, as exportações alcançaram um valor de US$ 11,6 bilhões no mês de março de 2021, o que representa uma alta de 28,6% em relação ao mesmo período de 2020, pela análise da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No caso do Espírito Santo não foi diferente: o estado bateu o recorde antes mesmo do fim de 2020 para exportação do café conilon e solúvel, com número respectivo de sacas em 4,4 milhões e 350 mil, segundo o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV).
Contudo, pelo lado dos custos, a atividade leiteira, por exemplo, sofreu com reduções nos valores pagos pelo produto, além de aumento das despesas com matérias primas. Por isso, para o restante do ano de 2021, os produtores devem seguir atentos aos movimentos na taxa de câmbio, que será um dos balizadores para o planejamento e investimento no setor.
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